A Floresta Amazônica está emitindo grandes quantidades de metano, o segundo gás mais influente no aquecimento global, mais de 20 vezes mais prejudicial que o dióxido de carbono. Sozinha, a Amazônia contribui com cerca de 23% das emissões mundiais anuais do gás. A revelação foi feita nesta semana em um estudo de brasileiros e americanos publicado na revista científica “Geophysical Research Letters”.
O metano é tipicamente expelido em ambientes úmidos e com pouco oxigênio, como os pântanos. Como durante as cheias, 20% da floresta é inundada, seria esperado que os níveis do gás na atmosfera fossem mais altos durante esses períodos. Mas os cientistas descobriram que essas taxas são mais altas do que o esperado tanto em épocas de cheias quanto em épocas de secas.
“Precisamos descobrir de onde todo esse metano está vindo”, afirmou ao G1 a pesquisadora Luciana Vani Gatti, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), que participou do estudo. “Ele pode estar vindo de outras fontes, que ainda não conhecemos, ou as fontes que conhecemos emitem ainda mais gás do que imaginávamos. É preocupante e precisamos investigar”, diz ela.
Entre 2000 e 2006, Gatti e seus colegas do Ipen, em parceria com cientistas do órgão americano que cuida de pesquisas sobre os oceanos e a atmosfera, o Noaa, usaram aviões de pequeno porte para coletar amostras do ar da Amazônia em diferentes altitudes -– partindo de apenas 150 metros do solo para até quatro quilômetros de altura.
Os dados foram comparados com os obtidos por estações de monitoramento global no oceano Atlântico e em Barbados. Descobriu-se que a Floresta Amazônica sozinha emite 35 partes por bilhão (ppb) de metano ao ano na atmosfera. O total das emissões do mundo é de 150 ppb.
O mesmo grupo de cientistas também avaliou as concentrações de dióxido de carbono na floresta e divulgará esses resultados em outro estudo, ainda a ser escrito e divulgado. Luciana Gatti adianta, no entanto, que assim como no caso do metano, os níveis de CO2 são preocupantes ao longo de todo o ano. “A gente costuma achar que só se deve preocupar com as queimadas para evitar a emissão de carbono na floresta, mas não é verdade. Vemos taxas altas mesmo em épocas quando não há queimadas”.
Segundo Luciana Gatti, a pesquisa revela que é preciso prestar mais atenção nessas fontes de gases que causam o aquecimento global. “Não podemos ficar só pensando em CO2. Precisamos de uma reorganização mundial de modos de vida se quisermos combater a mudança climática”, afirma ela.
“Você voa por alguns lugares da Amazônia hoje e vê tudo recortadinho lá embaixo. É uma tristeza. Estamos voando sobre a Amazônia e parece que estamos em cima do estado de São Paulo. Tudo isso, toda essa mudança causa impacto na emissão de gases. Temos que planejar, a coisa não pode ser caótica como tem sido até agora”, critica a cientista.
O estudo divulgado nesta semana faz parte de um projeto internacional coordenado pelo Brasil que visa entender qual é o papel da Amazônia no clima, o Experimento Biosfera-Atmosfera de Larga Escala na Amazônia (LBA, na sigla em inglês).
(Por Marília Juste,
G1, 29/05/2007)