Empresas aplicarão US$ 150 milhões apenas para o estudo da fonte gerada a partir de água quente. O Brasil caminha para a descoberta de novas fontes alternativas de energia elétrica e uma delas está surgindo na região Norte do País. Na última semana, a empresa israelense Ormat Technologies, Inc e a paulista Ponte Di Ferro firmaram contrato para estudar a viabilidade e a relação custo-benefício para a exploração da chamada energia geotérmica, gerada a partir de água quente. O investimento apenas para a fase inicial do estudo, segundo avaliação das empresas, é calculado em US$ 150 milhões.
Inicialmente, o trabalho será direcionado aos poços de água quente que abastecem a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e que poderão ser transformados numa fonte não poluente de energia elétrica. "O volume de água e a turbina poderão gerar até 75 megawatts (MW)", diz o diretor da Ponte Di Ferro e responsável pelo projeto no Brasil, o engenheiro Carlos Sveibil Neto. "Mesmo considerando este potencial pequeno, o volume de energia poderá ser ampliado por meio de pesquisas em outras regiões do País", acrescenta.
Essa fonte de energia é muito utilizada em Israel, onde a perfuração dos poços pode chegar até 4.000 metros. Segundo estudos, em qualquer ponto do planeta, a cada 100 metros de profundidade o solo circundante ganha 3º Celsius de temperatura. Com 4 quilômetros de perfuração, os israelenses conseguem temperaturas de 120º Celsius e, ao injetar água, conseguem transformá-la em vapor que associados a uma turbina produzem energia elétrica. "Se partirmos de água naturalmente quente, não será preciso perfurar muito para elevar sua temperatura no ponto de produção de vapor", afirma Sveibil Neto.
Conforme a previsão do diretor da Ponte Di Ferro, os poços da extinta Paulipetro, que jorram água quente em Lins, interior de São Paulo, também poderiam ser transformados numa fonte de geração de energia elétrica. "Por essa possibilidade no interior paulista, fica claro que em outras regiões do Brasil existe muita energia para ser gerada por esse tipo de fonte", diz o executivo, acrescentando que os equipamentos para a construção da nova usina são hoje importados, "mas possíveis de serem fabricados no Brasil".
A empresa israelense deverá iniciar, nos próximos meses, um mapeamento para detectar as áreas de exploração geotérmica. A brasileira Ponte Di Ferro, que está construindo em Mossoró uma fábrica de biodiesel, conseguiu detectar que, nessa região, a água subterrânea aflora numa temperatura de 50º Celsius, "tão quente que, para ser utilizada, precisa ‘descansar’ em tanques de resfriamento. "Esse vapor, ao ser expelido do poço, gira as turbinas de produção de energia".
O importante, segundo Sveibil Neto, é calcular o custo inicial e o potência de produção energética. Ele explica que o investimento inicial é grande, mas, ao chegar à fase da produção, o custo cai para praticamente zero, já que a quase totalidade da água é reaproveitada e reinjetada no poço, após girar as turbinas. "Para cavar o poço e instalar o sistema de injeção, o investimento inicial é alto, mas, a partir de então, a produção tem custo zero", ressalta Sveibil Neto. Além da análise de Mossoró, o consórcio Ormat e Ponte Di Ferro acredita que na região de Imperatriz, em Santa Catarina, será possível captar energia elétrica por meio do vapor, porque, desde o tempo do Império, a água naturalmente quente deu origem a um conjunto de termas.
De com acordo com Sveibil Neto, o próximo passo será a realização dos cálculos de disponibilidade de água quente em Mossoró, para definir o potencial de produção e o tempo de amortização do investimento. Sobre a transmissão da energia gerada, ela poderá ser feita através de postes com transformadores e as turbinas podem ser importadas - a própria Ormat produz o equipamento em parceria com uma empresa alemã.
Segundo Sveibil Neto, logo depois de concluídos os estudos, as empresas vão apresentar o projeto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para avaliação e autorização. "Com os resultados vamos ter uma visão mais correta para gerar os 75 MW e, sendo assim, a certeza da aceitação da agência reguladora", considera.
De forma clara, sem agressão ao meio ambiente e gerando uma energia limpa, o Brasil poderá, se aprovado o projeto, contar com mais uma fonte alternativa, segundo o executivo da Ponte Di Ferro. "As exigências ambientais são grandes. Num País onde existe matérias-primas para combustíveis e energia, será muito importante mais esta nova alternativa".
Para o professor Nivalde J. de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, todas as possibilidades de geração de energia vindas de fontes não hídricas são bem-vindas. "Percebemos que num horizonte de 50 a 100 anos, o Brasil não poderá contar mais com fontes hidráulicas. Um investimento estratégico, mesmo com custo médio do MW alto, é importante", afirma.
(Por Ivonéte Dainese,
Gazeta Mercantil, 30/05/2007)