No próximo mês, a Embrapa irá começar a elaboração de relatórios de referência para o inventário das emissões de gases de efeito estufa provenientes do setor agrícola no Brasil (agricultura e pecuária), destinados à segunda Comunicação Nacional, coordenada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. O levantamento será em nível nacional, com dados de emissão apresentados por Estado, e, no caso da pecuária, deverá estar concluído em 2009.
A Embrapa Meio Ambiente, o Instituto de Zootecnia, a Embrapa Pecuária Sudeste e a Unesp/Jaboticabal estão realizando a mensuração direta de metano por ruminantes, especificamente produzido pela eructação (arroto) dos animais a pasto.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Magda Lima, coordenadora da Rede de Pesquisas Agrogases, da Embrapa, animais da raça nelore de várias idades e pesos foram estudados em estações diferentes do ano, em pastagem de braquiária.
Os pesquisadores do IZ encontraram uma média diária de emissão de metano por animal nelore de cerca de 160 gramas. Em quilos, a média de emissão foi de 57 quilos/animal, com média de 37 quilos/animal no inverno e 80 quilos/animal no verão. 'Nessa época, a oferta de alimento é maior para o gado.'
Padrão mundialNos machos de 2 a 3 anos da população avaliada, Magda diz que a média de emissão de gases foi de 49,4 quilos/ano e, de 3 a 4 anos, de 57 quilos/ano. 'Esses números estão próximos do default (padrão) mundial para o rebanho bovino de corte, segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que é de 57 quilos de emissão de metano/ano por animal no caso de machos adultos e 42 quilos/ano para animais jovens', avalia.
Magda conta que pesquisas estão sendo feitas para testar diferentes dietas e ver sua influência nas taxas de emissão. 'A idéia é melhorar a produtividade animal e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões de gases', destaca. A pesquisadora acrescenta que no sistema de confinamento a emissão pode ser maior por animal, mas a relação de emissão de metano por unidade de produto tende a ser menor. A administração de uma dieta mais rica em proteínas, além das fibras necessárias ao animal, implicará uma melhora da absorção da matéria orgânica ingerida e, em conseqüência o animal tende a ter um desempenho melhor em menor tempo.
Segundo Magda, além dos estudos sobre a influência da dieta e idade, há pesquisas sobre o efeito de ionóforos (tipo de antibiótico que, seletivamente, deprime ou inibe o crescimento de microrganismos do rúmen) nas emissões de metano, e outros produtos alimentares, visando à redução das emissões combinadas a um melhor desempenho animal.
Para Graziano, industrialização é mais danosa que a pecuáriaO secretário de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, o engenheiro agrônomo Xico Graziano, considera um exagero colocar sobre a pecuária a responsabilidade do aquecimento global. 'É inegável que há produção de gás metano no processo de fermentação dos ruminantes', diz. No entanto, ele afirma que os pântanos produzem muito mais metano que os ruminantes, e ambos são fenômenos naturais.
Segundo Graziano, há uma agenda ambiental que deve ser seguida pela pecuária. 'Temos de prestar atenção nisso, ser ambientalmente correto, mas, de forma alguma, devemos culpar a pecuária pelos problemas do aquecimento global', diz. 'A produção dos gases de efeito estufa é responsabilidade dos processos humanos, da industrialização.'
(Por Beth Melo,
Estado de S. Paulo, 30/05/2007)