O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, disse ontem (29/05) que as incertezas com o fornecimento de energia elétrica têm afetado os planos da empresa no Brasil. Segundo ele, embora o País tenha grandes reservas de bauxita, a empresa não pensa em novos investimentos na área de alumínio por temer falta de energia a partir de 2012 e 2013.
Além dos projetos de alumínio, a questão da energia tem afetado projetos nas áreas de cobre e níquel. 'Estamos priorizando projetos maiores e com menos consumo de energia, como Salobo (extração de cobre). Por esse problema, adiamos os projetos 118 e Vermelho (de níquel)', afirmou Agnelli, após participar do 3º Fórum Globo News, em São Paulo.
O executivo destacou que a empresa tem buscado no mercado internacional oportunidades para instalar esses projetos. Na avaliação dele, o País precisa debater a matriz energética considerando uma visão de médio e longo prazos. 'O fato é o seguinte: o País precisa ter mais geração de energia, seja nuclear, térmica, a gás, carvão, hídrica, o que for. Mas precisa ter mais energia.'
A preocupação de Agnelli é geral entre as empresas eletrointensivas, cuja energia representa boa parte dos custos dos produtos, como a indústria de alumínio e ferro-gusa. 'Hoje há muito pouco projeto entrando em operação no País e a questão do fornecimento de gás não está sendo solucionada na velocidade necessária', diz o diretor da Alcoa, Ricardo Sayão. Segundo ele, a empresa tem o suprimento garantido até 2020. 'Mas, se formos fazer algum tipo de expansão, não tem jeito. Haveria necessidade de mais energia', disse o executivo. Ao lado de BHP Billington, Alcan e Abalco, a empresa deve construir uma unidade de cogeração de energia a partir do carvão em São Luís (MA), de 50 MW.
O clima de incerteza é confirmado pelo vice-presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape), Cristiano Abijaode Amaral. Segundo ele, quando o governo garante que não vai faltar energia no País, ele está se referindo ao mercado cativo, atendido pelas distribuidoras. 'Isso não inclui o mercado livre, cujo aumento da oferta não tem ocorrido.'
O executivo afirma ainda que algumas empresas estão buscando projetos térmicos para tentar aumentar a capacidade de geração, já que não há empreendimentos novos de hidrelétricas. Hoje, diz ele, as empresas associadas da Abiape têm cerca de R$ 3 bilhões por ano para investir em geração e não tem onde pôr o dinheiro. As companhias querem, inclusive, disputar as usinas do Rio Madeira (Jirau e Santo Antônio), observou Amaral. Essas usinas aguardam o licenciamento prévio para serem leiloadas.
O vice-presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia Elétrica (Abrace), Eduardo Carlos Spalding, afirma que outro caminho encontrado pelas empresas para aumentar a autoprodução é a compra de participações em projetos em andamento, como foi o caso da aquisição feita pela Gerdau das hidrelétricas Caçu e Barra dos Coqueiros, que eram da Novelis.
'Estamos falando de empresas que atuam em mercados globais, que dependem de produtos altamente competitivos. Energia é uma questão de sobrevivência', disse ele, reclamando também dos preços cada vez maiores da eletricidade no Brasil. Fato que ainda deve causar muita preocupação às empresas, já que na falta de hidrelétricas a alternativa do País é aumentar a geração termoelétrica, considerada mais cara e poluente. 'O potencial hídrico do Brasil é enorme, mas temos visto cada vez menos os projetos se tornarem realidade', afirma o presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Paulo Mayon.
Hoje, além dos problemas de licenciamento ambiental, o País convive com a falta de projetos hidrelétricos para leiloar. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) está fazendo uma série de estudos de viabilidade de usinas em vários Estados, especialmente no norte do País. Mas esses estudos só devem ficar prontos em cerca de dois anos.
FRASES
Roger Agnelli
Presidente da Vale
'O fato é o seguinte: o País precisa ter mais geração de energia, seja nuclear, térmica, a gás, carvão, hídrica, o que for. Mas precisa ter mais energia'
Ricardo Sayão
Diretor da Alcoa
'Hoje há muito pouco projeto entrando em operação no País e a questão do fornecimento de gás não está sendo solucionada na velocidade necessária'
Paulo Mayon
Presidente da Associação Nacional dos Consumidores (Anace)
'O potencial hídrico do Brasil é enorme, mas temos visto cada vez menos os projetos se tornarem realidade'
(Por Anne Warth e Renée Pereira,
Estado de S. Paulo, 30/05/2007)