Alellyx e CanaVialis, empresas de biotecnologia da Votorantim Novos Negócios, vão desenvolver juntas com a norte-americana Monsanto variedades transgênicas de cana-de-açúcar com gens resistentes ao herbicida glifosato (Roundup Ready) e ao ataque de insetos, com a tecnologia Bt. Após dois anos de negociações, as empresas anunciaram nesta terça-feira (29/05) um acordo de troca de tecnologia, o primeiro feito com a multinacional na América Latina.
"Nessa primeira fase, desenvolveremos a cana resistente ao glifosato e a cana resistente a insetos", declarou a jornalistas o diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios, Fernando Reinach. "Conseguimos ter um estágio de novas tecnologias que permitiu fazer um acordo de igual para igual com a Monsanto, estamos trocando tecnologia", acrescentou Reinach, que espera a aprovação comercial pelos órgãos de biossegurança do Brasil de tais variedades transgênicas em um período de quatro a cinco anos.
Quando esses produtos estiverem sendo utilizados, as empresas prevêem redução dos custos de produção nos canaviais, uma vez que vários agroquímicos deixarão de ser aplicados, tanto para o controle de ervas daninhas como para o controle de insetos. A cana com tecnologia Bt seria resistente à broca (Diatraea saccharalis), um inseto cuja larva se alimenta do sulco da planta. Essa é uma das principais pragas da gramínea, que atualmente é combatida por meios químicos e biológicos. O mesmo gem poderia combater também a cigarrinha, outra "praga" cultura, insetos esses que tendem a aumentar com a gradativa redução das queimadas da palha.
No caso da cana RR, ela poderia ser bastante útil nas plantações que irão se desenvolver em áreas de pastagens degradadas. Segundo Reinach, a cana resistente ao herbicida poderia ser eficiente em áreas que têm o capim-braquiária, de difícil combate atualmente. Hoje essa erva é retirada de plantações de cana por meio da capina ou por uma cuidadosa aplicação do herbicida. "Com a cana resistente, o glifosato pode ser aplicado sem problemas."
Royalties
De acordo com ele, deve colaborar para a aprovação comercial das canas RR e Bt o fato de essas mesmas tecnologias já terem sido aprovadas pela CTNBio - Comissão Técnica Nacional de Biossegurança para a soja e algodão, respectivamente. "Os dois gens selecionados para a parceria já estão aprovados no Brasil, no caso da soja e do algodão... O nível de conforto da CTNBio será maior (em aprovar)", afirmou o diretor.
As companhias não divulgaram valores envolvidos no acordo, afirmando apenas que o grande negócio está no intercâmbio de tecnologia. "Não estamos comprando tecnologia deles, nem ações deles, nem eles as nossas", explicou Reinach, lembrando que o acordo valerá para descobertas futuras. As empresas informaram que os royalties obtidos com a comercialização das variedades transgênicas serão divididos, mas os percentuais que caberão a cada companhia são confidenciais. "Tem que imaginar quanto custou (a tecnologia) para se chegar até aqui."
Segundo o executivo, o acordo prevê que a Alellyx, que tem a tecnologia de implantar o gem alterado na cana, vai utilizar em um primeiro momento os gens desenvolvidos pela Monsanto. E quem vai comercializar o produto para as usinas após a aprovação é a CanaVialis, que já desenvolve variedades não-transgênicas para usinas - atualmente a empresa tem acordo com 52 usinas, e suas plantas já estão em mais de 1 milhão de hectares (um sexto da área nacional.
A Monsanto, de outro lado, poderá ter acesso a gens desenvolvidos pela Alellyx, que poderão ser implantados em culturas com as quais a empresa já trabalha em biotecnologia (milho, canola, soja, algodão, hortaliças). A Alellyx já desenvolveu, por exemplo, um gem para a cana que aumenta em 80 por cento a sacarose por hectare. Essa variedade já foi aprovada pela CTNBio para pesquisa de campo, que deve durar pelo menos mais dois anos. "Se aprovada, será como se o Brasil produzisse 80 por cento mais de açúcar e álcool na mesma área."
(Reuters, 29/05/2007)