Cumbaru, pequi, jatobá, mangava, cagaita. O cerrado possui milhares de plantas medicinais e uma outra quantidade expressiva de frutos que servem para alimentação humana e que são ricos em vitaminas e nutrientes. No entanto, as espécies nativas nem sempre são bem utilizadas pela população, principalmente em uma região em que a migração de famílias é muito intensa, como em Mato Grosso. Ajudar a impulsionar o agroextrativismo sustentável foi a forma que a Federação de Órgãos Para Assisência Social e Educacional (FASE-MT) encontrou para unir conhecimento e valorização ambiental.
Agroextrativistas de sete comunidades beneficiados pelo projeto Segurança Alimentar e Intercâmbio de Saberes Ambientais apresentaram os produtos desenvolvidos nas comunidades bem como discutiram próximos passos necessários para a melhoria do uso sustentável do cerrado em um encontro de extrativismo, promovido pela entidade, que terminou semana passada em Cáceres, a 215 km de Cuiabá.
A futura pedagoga Cíntia Masuí, que mora na comunidade São José conta que no assentamento o projeto começou com 3 mulheres e atualmente 12 pessoas participam da produção de doces, farinhas, licores, sucos e geléias. “Antes ninguém dava valor. O cumbaru só servia para madeira, para fazer cerca. Hoje se preserva o pé de cumbaru como se tivesse plantado um pé de limão, de laranja, ao invés de derrubar as árvores, nós já estamos plantando”, alegra-se Cíntia. Sua comunidade faz farinha, paçoca e doces do cumbaru. Da mangava é produzido o licor e da orvalheira, também conhecida como cagaita, a comunidade produz sucos e geléias.
De acordo com Maurício Ferreira Mendes, biólogo e coordenador do projeto, o objetivo central é associar os produtos do cerrado com a produção agrícola convencional já realizado nas comunidades. Os pequenos produtores plantam o arroz, o feijão, a mandioca, criam seu gado, mas preservam espécies nativas devido ao seu uso para alimentação ou medicinal. “Foi realizado um diagnóstico para identificar as principais potencialidades do cerrado na região de Cáceres para o uso alimentar, medicinal e econômico”, explica.
De posse destes dados, a FASE fez um processo de sensibilização dos moradores sobre a utilização das espécies nativas. O jatobá, de acordo com o coordenador, é rico em cálcio, o cumbaru, em vitaminas e o pequi tem betacaroteno, que se transforma em vitamina A no organismo além de ser anti-oxidante. “Além do valor alimentar e medicinal, também estamos olhando o econômico. A idéia é consumir em casa os produtos e o excedente ser comercializado. As comunidades estão expondo em feiras e a meta é levar os produtos nos mercados”, conta.
Por enquanto, os produtos são comercializados pelos grupos em feiras e eventos além de serem consumidos na própria comunidade que estão valorizando cada vez mais o que o cerrado dá. Está em curso também uma proposta de uma parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em fornecer os produtos para merenda escolar dos municípios das comunidades.
Outras experiênciasA experiência do agroextrativismo na região de Cáceres também é vivida em oturas regiões de Mato Grosso. Em Vila Bela da Santíssima Trindade, a 520 km de Cuiabá, agricultores familiares como Manoel Prado, que atualmente é secretário municipal de Agricultura do município, implantou o agroextrativismo em seu lote. Desde que começou a implantar o sistema agroflorestal no quintal de sua casa, além de perceber que a temperatura em volta ficou mais amena, vem descobrindo novos usos para as espécies que cultiva. “Temos três freezers sempre cheio de polpa de frutas como o araçá-boi, cupuaçu, pitanga, tamarindo, jamelão e outros” comenta. “Eu e outros produtores estamos entregando polpa de frutas para a merenda escolar”. Manoel Prado, que participou do seminário da FASE, acredita que adquiriu novos conhecimentos para sensibilizar mais agricultores em seu município.
(Por André Alves, Estação Vida /
Amazônia.org, 28/05/2007)