Em uma faixa industrial de terreno à beira da Newtown Creek, oleodutos correm rente ao chão, conectando um conjunto de gigantescos tanques de cor bege. Com base na aparência externa, essa pequena paisagem texana instalada em Greenpoint, Brooklyn, não parece se enquadrar facilmente ao plano do prefeito Michael Bloomberg para dar a Nova York um futuro mais ecológico e menos dependente do petróleo. Mas o terminal de petróleo de Greenpoint pode em breve se tornar sede de uma das maiores usinas de biodiesel dos Estados Unidos. A Metro Fuel Oil, controladora do terminal, está esperando licença da prefeitura para produzir 416 milhões de litros de combustível ao ano, usando óleos vegetais como matéria-prima. A produção equivaleria a mais de 40% do total de biodiesel manufaturado nos Estados Unidos em 2006.
A usina de Greenpoint e uma instalação de menor porte proposta para Red Hook, também em Brooklyn, que devem ser inauguradas no ano que vem, seriam as primeiras refinarias de biodiesel da cidade e se integrariam a um setor que, até o momento, está concentrado no meio-oeste e sul do país. O crescimento e a expansão do setor rumo ao leste estão sendo estimulados pelos altos preços do petróleo e pelos programas governamentais que têm por objetivo reduzir a demanda por petróleo importado. Mas essas mudanças também criam preocupações com a possibilidade de que o esforço de obter combustíveis alternativos, caso não seja administrado com cuidado, tenha conseqüências imprevistas como desflorestamento e preços mais elevados para os alimentos, dada a corrida para destinar cada vez mais áreas cultiváveis à produção de safras combustíveis.
"Temos de selecionar as diretrizes corretas e as melhores tecnologias", disse Ron Pernick, co-fundador da Clean Edge, uma consultoria e empresa de pesquisa do Oregon que promove tecnologias limpas. "Mas, se o projeto for executado corretamente, a adoção dos biocombustíveis resolverá uma série de problemas, dos preços instáveis dos combustíveis fósseis à dependência de fontes externas, passando pelas alterações climáticas e pela criação de empregos".
A Metro, uma empresa familiar que tem cerca de 130 funcionários (outros 35 teriam de ser contratados quando a produção de biocombustível começar, dizem executivos do grupo), acrescentou o biodiesel à sua tradicional linha de derivados de petróleo cerca de dois anos atrás, trazendo o combustível de fora do Estado, em caminhões-tanque. Com a alta dos preços do petróleo no terceiro trimestre de 2006, até um pico de US$ 78 por barril, a demanda por combustíveis alternativos como o biodiesel disparou. "Não havia como obter o bastante", disse Tom Torre, o vice-presidente de operações da Metro. Ele e os donos da empresa, Paul e Gene Pullo, imaginam barcaças navegando pelo East River, carregadas de óleo de soja vindas de moinhos em Maryland e na Pensilvânia.
"Os fatores de custo estavam lá", disse Torre. "E nós imaginamos que seria possível criar uma usina bem aqui, na cidade". Os defensores do biodiesel dizem que se trata de uma alternativa atraente por derivar de fontes renováveis, como soja, óleo de palma, sementes oleaginosas e gordura animal. O produto emite volume menor de gases que causam o aquecimento global e menos particulados do que o diesel convencional. Tipicamente misturado ao diesel comum, o produto pode ser usado na maior parte dos motores e fornalhas diesel, com pouco ou nenhum ajuste. Do lado negativo, seu curso é superior ao do diesel comum.
A Tri-State Biodiesel, outra empresa de Nova York que planeja começar a produção de biodiesel no ano que vem, pretende usar gordura reciclada de restaurantes como sua fonte de matéria-prima, disse Brent Baker, o presidente-executivo do grupo. A empresa está esperando licenças estaduais e municipais para começar a produzir 11,5 milhões de litros de biodiesel ao ano em sua usina de Red Hook. Baker disse que já fechou acordo com cerca de 400 restaurantes em Manhattan para recolher sua gordura usada, a custo zero.
No passado, refinarias de petróleo se amontoavam à margem da Newtown Creek, em Greenpoint, lançando fumaça e vapores tóxicos na atmosfera; a última delas foi fechada nos anos 60. O que restou do pólo petroleiro foram os terrenos e a via aquática, contaminados a ponto de os processos judiciais quanto à responsabilidade pela limpeza ainda não terem sido decididos, passados quase 40 anos.
Em contraste, os produtores de biodiesel alegam que seus métodos de produção são tipicamente mais limpos e mais seguros. O processo de refino não resulta em emissões e tipicamente mistura óleo vegetal bruto com um álcool industrial como o metanol e um catalisador, usualmente o hidróxido de sódio, para causar uma transformação química. Os subprodutos da reação incluem metanol, que pode ser reutilizado, e glicerina, que pode ser vendida para uso na fabricação de sabonetes e outros produtos.
Embora o processo não seja completamente benigno, já que o metanol é explosivo, o Conselho Nacional do Biodiesel, uma organização setorial, tentou acalmar os temores de vazamentos explicando que o biodiesel não é mais tóxico do o que sal de cozinha comum, além de ser biodegradável, em ritmo mais rápido do que o açúcar. Gerald Esposito, gerente distrital do conselho comunitário do Brooklyn que supervisiona a área de Greenpoint, afirma que a organização ainda não se pronunciou sobre os planos de construir uma nova refinaria no local, mas "estou animado com a idéia. Ela trará empregos, e pelo que entendi não haverá mau cheiro, e a possibilidade de vazamentos é mínima".
(The NY Times, 29/05/2007)