A ausęncia do ministro de Integraçăo Nacional, Geddel Vieira Lima, em nada afetou prefeitos, estudiosos e personalidades políticas que participaram do seminário A transposiçăo do rio Săo Francisco – Um divisor de águas, promovido ontem (28/05), pela Uniăo dos Municípios da Bahia (UPB), no Hotel Fiesta. “Ele perdeu uma boa oportunidade”, afirmou o presidente da entidade, Orlando Santiago, prefeito de Santo Estévăo, que ficou satisfeito com o resultado dos debates.
Com a presença confirmada previamente, Geddel Vieira Lima resolveu embarcar para Brasília na véspera, mesmo respondendo pela pasta que conduz o projeto. “A ausęncia do ministro mostra uma espécia de fraqueza da própria postura governamental de năo levar essa discussăo até as últimas consequęncias”, afirmou o sociólogo Gey Espinheira, estudioso convidado para fazer uma articulaçăo dos depoimentos do seminário.
O sociólogo compreende que os estudos năo-oficiais explanados no evento por pesquisadores universitários, políticos e pelo Ministério Público refutam todos os dados técnicos levantados pelo governo em favor da proposta. Para o presidente da UPB, além das exigęncias técnicas, seria necessário o convencimento. “Neste aspecto é que parece emergir o conflito”. Santiago deixou para o ministro comentar o porquę de sua ausęncia no evento.
Todos os palestrantes do seminário mostraram posicionamento crítico ao projeto, mesmo aqueles que, por razőes políticas ou geográficas, se esperasse o contrário. Indicado para o cargo pelo próprio Geddel, o secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do estado, Juliano Matos, defendeu a revitalizaçăo antes da transposiçăo e um maior debate sobre o tema. “Quanto mais setores debaterem esse tema, bem como toda a comunidade, de maneira geral e ampla, mais valores serăo agregados, enriquecendo o debate”.
Argumentos levantados pelo governo federal para justificar a transposiçăo foram rebatidos durante o encontro. A vice-presidente do Comitę da Bacia Hidrográfica do Rio Săo Francisco, a professora da Ufba, Yvonilde Medeiros, explicou que a instituiçăo avalizou a transposiçăo para matar a sede humana e dessedentaçăo animal, desde que apresentados estudos comprobatórios dessa caręncia, ainda năo apresentados ao comitę.
“Nós conhecemos o projeto. Năo conhecemos os reais beneficiários da transposiçăo, que năo estăo informados em documento algum”, resumiu a professora. A mudança de opiniăo do ministro, que quando exercia mandato de deputado federal era contra a transposiçăo, foi a dúvida levada pela ex-senadora e ex-candidata a presidente da República, Heloisa Helena (Psol-AL). “O processo da transposiçăo consolida uma farsa técnica e uma fraude política”, acusou.
Responsável por uma greve de fome que interrompeu a transposiçăo em 2005, o bispo de Barra, dom Luiz Flávio Cappio saiu animado do seminário. “As açőes sociais ajudam a sensibilizar. Espero que com tantas mobilizaçőes democráticas, o governo federal fique sensibilizado”. Segundo o religioso, “o norte năo é a verdade, săo os interesses”. A coordenadora Interestadual das Promotorias do Rio Săo Francisco, promotora Luciana Khoury, também defendeu a revitalizaçăo e informou que o Supremo Trbunal Federal ainda pode intervir no sentido da derrubada do projeto.
(
Correio da Bahia, 29/05/2007)