Mato Grosso esteve envolvido de alguma forma em pelo menos 17 grandes ações da Polícia Federal desencadeadas em todo o PaísAs operações Navalha e Mapinguari, desencadeadas este mês pela Polícia Federal (PF) e que tomam conta da mídia nacional, ainda colocam Mato Grosso no "epicentro" de escândalos de corrupção e enriquecimento ilícito em todo o país. As novas denúncias que mexem com a opinião pública neste momento figuram como mais um capítulo na onda de grandes fraudes desbaratadas no Brasil nos últimos três anos. Levantamento baseado em informações da PF aponta que o Estado é o centro ou está envolvido em pelo menos 17 grandes ações policiais no período.
Os casos considerados mais emblemáticos - a Máfia dos Sanguessugas e a Operação Curupira - agora dão lugar a novos escândalos envolvendo o esquema de desvio de recursos públicos em licitações fraudulentas de obras públicas e denúncias de exploração e venda ilegal de madeira no Norte do Estado. Mas ao histórico ainda se somam uma série de outras operações, desde a venda de armas e pedofilia na internet, onde Mato Grosso marca presença de forma desonrosa com denúncias e prisões.
O rol de casos inclui as operações Mamoré, Tornado, Midas, Perseu, Assalto a banco, Hidra, Anjo da Guarda, Ouro Verde, Rio Pardo, Breakdow, Pegasus e Panorama, além das citadas anteriormente. Exemplos mais recentes incluem a Operação Lacraia, que desbaratou uma rede de venda ilegal de terras em Mato Grosso. Os casos estão inseridos em pelo menos 155 operações de grande porte empreendidas pela Polícia Federal desde 2004.
O cientista político Manoel Motta avalia que a série de denúncias envolvendo Mato Grosso também pode ser julgada como reflexo, ainda que negativo, do ritmo de expansão econômica do Estado. Neste caso, o potencial estupendo de crescimento perante outras regiões do país acaba se transformando na chance de atos de enriquecimento ilícito para um grupo de políticos, lobistas e empresários.
"Há uma ampliação de interesses aqui. O Estado passou por um processo de desenvolvimento muito rápido e essa dinâmica acaba gerando contradições. Com a divisão do Estado havia uma expectativa de que Mato Grosso do Sul tomasse a ponta do desenvolvimento e aconteceu o inverso. Esses problemas todos (escândalos) estão muito relacionados a essa 'competência ao desenvolvimento', que desperta tanto elementos bons, como o lado ruim".
Motta ainda opina que o patrimonialismo arraigado nas relações de poder no Brasil também pode ser encarado como o cerne de esquemas como o investigado na Operação Navalha, que aponta para uma das maiores máfias em obras públicas na história do país. "Isso é reflexo da tradição patrimonialista, onde o privado trata o público como seu".
Os suspeitos, entre eles o prefeito de Sinop, Nilson Leitão (PSDB), são acusados pela PF de participar de esquema de fraudes em licitações com recursos oriundos de pelos menos quatro ministérios e do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit).
O prefeito tucano reassumiu o cargo na quinta-feira e negou todas as acusações feitas pela Polícia Federal. O advogado de Nilson Leitão, Marcelo Segura, revelou nesta semana que estuda ingressar com uma ação contra a União por dano moral.
A construtora Gautama figura como o quartel general do esquema, com ramificação em pelo menos cinco Estado e no Distrito Federal, além das prefeituras de Sinop e Camaçari (BA), conforme relatórios da Polícia Federal.
(Por Juliana Scardua,
Diário de Cuiabá, 28/05/2007)