Maior problema de invasão com ocupação em áreas indígenas do nordeste paraense, a reserva Alto Rio Guamá, dos índios tembé, já está com quase a metade dos seus 279 mil hectares devastada pela extração ilegal de madeira. Dentre os madeireiros que cometeram esses crimes, destaque para Mejer Kabacznik. Já falecido, ele deixou herdeiros que, segundo os índios, continuam devastando a floresta localizada dentro da reserva indígena.
Para se ter uma idéia da devastação de quase 30 anos, foi construída até uma estrada que atravessava a reserva indígena e que, com o tempo, foi gradativamente incorporada ao dia-a-dia da população da região e se transformou em rota, autorizada pelo Estado, de linhas de ônibus intermunicipais e de escoamento da produção agrícola da região. Pela estrada também começaram a ser transportadas milhares de toras de madeira nobre, extraída justamente pela maioria das pessoas que, já em idade acima dos 50/60 anos, e depois de anos trabalhando para os madeireiros, agora estão sendo remanejadas da reserva.
Amanhã, completam-se 11 anos do confronto entre índios tembé e posseiros que marcou a tortuosa e lenta retirada dos invasores da reserva. O confronto ocorreu na vila Livramento e foi comandado por um homem conhecido por Paraíba. Por quase dois dias, ele manteve reféns 77 índios, dois indigenistas e um motorista da Funai. Desde então, todos se convenceram de que havia chegado a hora de acabar as invasões e mandar embora os invasores que permaneciam na reserva. Mas, mesmo com mais de 600 famílias remanejadas, novas invasões ocorreram.
O reavivamento do limite do pico 3 da área indígena descobriu 244 famílias invasoras. No total, são mais de 83 mil hectares ocupados por forasteiros, espalhados em dezenas de vilas. Em algumas dessas vilas - como as da região do Água Preta, igarapés Gengibre, Farmácia, Cumaru, Castanheira, Pepino, Mutuca, Pirão Grande, Marajupema e calha do rio Coraci-Paraná -, é comprovada a existência de grandes plantações de maconha, incentivada por traficantes e por pessoas que de certa influência na região.
Na região centro-sul da reserva, entre os rios Piriá e Coraci-Paraná, município de Nova Esperança do Piria, é onde se concentra a maior atividade de extração ilegal de madeira. Em Nova Esperança está a maior parte da reserva, 149.309,69 mil hectares (55,33%), enquanto Paragominas fica com 93.407,37 mil hectares (33,36%) e Santa Luzia do Pará, com 137.280,63 hectares (13,31%).
As áreas consideradas hoje de maior perigo da ocorrência de conflitos são as que ficam no limite leste, nas localidades de Cristal, Guajará e Marajupema, pelo lado oeste nas vila Tauari, Marapinima, Livramento, Paragonorte/Caip e na cidade de Nova Esperança do Piriá, onde, segundo a Funai, estão os madeireiros que mais influenciam e financiam a extração de madeira.
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O Liberal, 28/05/2007)