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hidrelétricas do rio madeira
2007-05-29
Antes mesmo do desfecho do caso rio Madeira, governo e empreiteiros já preparam o terreno para uma nova grande hidrelétrica na Amazônia. O próximo alvo é o Tapajós, um dos últimos grandes rios da região ainda sem represas planejadas.

A construtora Camargo Corrêa deve concluir ainda neste semestre o levantamento do potencial hidráulico do Tapajós e do Jamanxim, seu afluente, na região de Itaituba, Pará.

Para isso, conta com um financiamento de R$ 13,6 milhões da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. A primeira parcela do empréstimo foi liberada em fevereiro.

A empreiteira informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que ainda não há uma estimativa que possa ser divulgada do potencial de geração de energia dos dois rios.

Mas estudos anteriores da Eletronorte, parceira da Camargo Corrêa no empreendimento, identificaram ali, no local conhecido como cachoeira de São Luís, um potencial de 11 mil megawatts (9.000 no Tapajós e 2.000 no Jamanxim). É quase o dobro da capacidade instalada somada das polêmicas usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira (Rondônia). E o equivalente à de Belo Monte, no rio Xingu.

Uma fonte graduada do setor elétrico afirma que a hidrelétrica -ou as hidrelétricas, já que não se sabe ainda qual seria a melhor forma de aproveitar as corredeiras do Tapajós- de São Luís não deve servir como "plano B" às usinas do Madeira, uma das mais importantes obras do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) e ainda sem licença ambiental do Ibama, apesar da forte pressão do próprio governo.

Mas que o novo projeto será a "próxima e última" grande hidrelétrica do país, já que potenciais hidráulicos dessa monta já foram mapeados e esgotados.

Assim como Santo Antônio e Jirau, a futura obra, se for levada adiante, tem tudo para causar polêmica com o setor ambiental. Os ambientalistas são contra grandes hidrelétricas por definição, já que na esteira dessas obras na Amazônia costumam vir inundações de floresta, surtos de grilagem de terras e desmatamento.

No caso de São Luís, há mais uma coisa a acrescentar à lista. O ponto onde o Tapajós forma suas corredeiras, perto da interseção com a rodovia Transamazônica, é cercado de unidades de conservação, como o Parque Nacional da Amazônia, e a Flona (Floresta Nacional de Itaituba). Além disso, há diversos assentamentos de reforma agrária na área, palco de conflitos no passado recente entre madeireiros e Ibama.

"Tem muito pouco espaço fora de unidades de conservação e assentamentos", diz Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra Amazônia Brasileira. "Você tem um parque nacional, duas áreas de produção de madeira e uma área de intensa colonização."

Smeraldi reconhece, no entanto, que um dos maiores nós ambientais do rio Madeira, a questão dos sedimentos, não se coloca no rio Tapajós, que é de águas claras.

O financiamento da Finep à Camargo Corrêa é reembolsável e funciona da seguinte maneira: se dentro de dois anos não sair um edital de concorrência para a construção da usina (ou das usinas), a empreiteira paga o governo e banca o custo do estudo até que aconteça a licitação. No eventual processo de concorrência, no entanto, esse custo será transferido ao vencedor do leilão.

Se for levada a cabo, São Luís consolidará um plano de ocupação da Amazônia que começou no regime militar com a Transamazônica. A estrada cruza três grandes rios (Tocantins, Xingu e Tapajós) em três pontos onde há grandes quedas d'água: uma delas, Tucuruí, já foi construída. A segunda, Belo Monte, sobre a qual se arrastava disputa com o Ministério Público, teve recentemente autorização para ter seu estudo de impacto ambiental. A usina do Tapajós é a última do trio.

O diretor econômico-financeiro da Eletronorte, Astrogildo Fraguglia Quental, afirmou que a usina de São Luís tem capacidade para substituir as obras planejadas para o rio Madeira, cuja entrada em operação é esperada para 2012.
Para ele e outros técnicos do setor, no entanto, o governo deveria voltar os olhos para Belo Monte, cuja estimativa de produção média de energia é de cerca de 5.000 megawatts (embora o potencial instalado seja de quase 11 mil megawatts, a grande diferença de vazão do rio na cheia e na seca reduz a energia "firme", ou seja, o que a usina vale de fato, à metade).

"Não tenho dúvidas de que Belo Monte é muito melhor do que qualquer uma delas", disse Quental. "Não só pela proximidade de grandes mercados [cidades do litoral nordestino], mas pela melhor relação custo-benefício no que diz respeito às finanças e ao ambiente, pois haveria menos inundações."

(Por Janaína Leite e Cláudio Ângelo, Folha de S. Paulo, 29/05/2007)


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