Cenário de memoráveis batalhas das revoluções que marcaram a história gaúcha, o Rio Camaquã hoje está no centro de um novo tipo de conflito.
Como seus afluentes se tornaram pequenos para permitir a expansão dos arrozais, que ocupam na bacia um território 3,5 vezes o tamanho de Porto Alegre, a disputa pela água se agrava a cada safra, como mostra a quarta e penúltima reportagem da série Rios Grandes do Sul.
Se, no passado, as lutas eram travadas pelos exércitos farroupilha e imperial, chimangos contra maragatos, o embate atual ocorre entre iguais. Durante uma briga pelo controle de bombas de um açude para irrigação das lavouras, o agricultor Paulo César Moreira, 29 anos, acabou assassinado por um vizinho, há dois anos, em Arambaré.
Pelo menos três projetos tentam diminuir os conflitos, numa parceria entre governos e comunidade. Um deles prevê a delimitação de cotas para os arrozeiros.
- No verão, falta água para a irrigação, então é preciso regrar a distribuição. Hoje, a maior parte do rio é terra de ninguém - diz o presidente do comitê da bacia do Camaquã, João Viégas.
Ironia do destino, a pujança do rio o fez refém de suas próprias águas.
(Por Leticia Duarte, Zero Hora, 29/05/2007)