Quem trabalha com coleta de lixo nas principais cidades paraibanas já se acostumou a encontrar, em meio ao lixo domiciliar, produtos como pilhas, baterias portáteis e lâmpadas fluorescestes, que contêm em sua composição metais pesados capazes de contaminar pessoas, animais e o solo. A falta de locais adequados para depositar produtos desse tipo implica em problemas ambientais e mantêm a discussão envolvendo políticas públicas sobre a problemática que envolve os resíduos tóxicos e tecnológicos, também chamados de hi-tech. Os especialistas apontam a coleta seletiva de lixo como uma das soluções viáveis para o problema.
A estudante universitária Ana Carolina Santos, 25 anos, conta que por duas vezes precisou se desfazer da bateria do aparelho celular e com a ausência de informação sobre o destino correto do utensílio depositou a bateria em um coletor de lixo comum instalado no centro da cidade. “Não sabia que precisava levar para um lugar especial por isso que coloquei no lixo normal, assim como faço com pilhas que uso em casa”, comenta.
Dúvida semelhante teve o também universitário Fábio Luiz Soares, 27 anos, quando precisou se desfazer de peças do computador que não funcionavam e nem serviam para reutilização. “Coloquei no lixo normal, mas o carro (do lixo) não recolheu. Levou todo o restante do lixo, mas deixou as peças no saco. Não sei o que fazer com este material”, conta.
A diretora da Cooperativa de Material Reciclável (Cotraamare), Maria do Socorro Sousa, disse que é comum encontrar em meio ao lixo coletado em Campina Grande produtos como pilhas, baterias de celular e peças de computadores. “Como não serve para reciclagem, aqui, no lixão, colocamos esse material no lixão mesmo junto com o restante do entulho e fica acumulado lá na terra”, explica. Todos os meses são reciclados cerca de 15 mil toneladas de resíduos no lixão do Serrotão, por um grupo de 40 pessoas.
Para a professora doutora, Crislene Rodrigues da Silva Morais, da Unidade Acadêmica de Engenharia de Materiais da UFCG, o acúmulo desses materiais no lixão é muito prejudicial ao solo e à saúde das pessoas que trabalham com a coleta de resíduos no local. “A liberação de materiais pesados contidos nestes produtos é um perigo real. Muitas vezes pode ser responsável por doenças graves, como leucemia e câncer. Por isso a necessidade urgente de discutir uma política pública estadual para a destinação adequada dos resíduos tóxicos e tecnológicos”, defende a professora.
PMCG tem projeto para coleta seletiva A Prefeitura de Campina Grande acredita que dentro de alguns anos a cidade estará dotada de um trabalho seletivo para coleta de resíduos. Um projeto sobre a coleta seletiva do lixo domiciliar está em fase de estudo na Secretaria de Obras e Serviços Urbanos (Sosur), mas não há previsão ainda para implantar o projeto nas ruas da cidade. O diretor de limpeza urbana da Sosur, Jomeris Tavares concorda sobre os prejuízos acumulados com o depósito inadequado de materiais pesados no lixo comum e ressalta que a população também tem de adotar um grau de consciência maior para evitar o problema. “Como no momento não há um trabalho específico para isso, a pessoa que tiver uma grande quantidade de resíduos deste tipo e não tiver um local adequado para descartar os produtos pode procurar a secretaria municipal de serviços urbanos que nos comprometemos a dar um destino ideal para estes resíduos”, lembra ele.
Para a professora Crislene Rodrigues, a partir do momento que os municípios forem dotados de um trabalho de coleta seletiva do lixo e da implantação de aterros sanitários a problemática do descarte de resíduos tóxicos e tecnológicos passará a apresentar resultados. “Enquanto isso, cada um pode contribuir com a melhoria do meio ambiente através de ações conjuntas ou isoladas mesmo. Se você tiver alguma bateria ou grande quantidade de pilhas para jogar fora, procure uma revendedora desses produtos, que elas são obrigadas a receber o material de volta para dar um fim adequado. O que não se pode continuar fazendo é colocar esses materiais em meio ao lixo comum, prejudicando o meio ambiente e colocando em risco a vida das pessoas que atuam na reciclagem desses resíduos”, comenta a professora. (EM)
Empresas devem recolher produtos Por lei os revendedores de baterias automotivas e industriais chumbo-ácidas, pilhas e baterias de óxido de mercúrio (usadas em sistemas de navegação) e de cádmio-chumbo ou níquel-cádmio (industriais ou de celulares) tem a obrigação de recolher dos consumidores os produtos obsoletos e repassar para a reciclagem. Mas nem todas as lojas que comercializam esse tipo de produto possuem coletores especiais para depósito desses materiais.
Na Paraíba um projeto realizado pelo Banco Real deu o primeiro passo para ajudar a população no recolhimento adequado de pilhas e baterias portáteis. O Programa Real de Reciclagem de Pilhas e Baterias, conhecido como ‘Papa-Pilhas’ é realizado em João Pessoa, Campinas/SP e Porto Alegre/RS, com a intenção de chamar a atenção da população para a importância do descarte adequado e a reciclagem desse tipo de produtos. Mais de cinco toneladas de pilhas e baterias usadas já foram recolhidas em João Pessoa nos oito coletores instalados nas agências do banco e no coletor implantado no Procon. O material coletado é enviado para uma empresa de São Paulo onde é realizada a reciclagem e os resíduos tóxicos contidos nos produtos são descartados de forma adequada, para evitar danos ao meio ambiente.
Crislene Rodrigues acredita que ações assim deveriam ser adotadas pelas empresas que comercializam produtos deste tipo, numa forma de facilitar o descarte por parte da população e contribuir com um meio ambiente melhor. (EM)
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Jornal da Paraíba, 28/05/2007)