A Marinha do Brasil, que está presente na fronteira oeste desde 1873, vai colocar nas águas do Rio Paraguai um navio-hospital para ampliar seu atendimento aos ribeirinhos do Pantanal. O comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Júlio Soares de Moura Neto, em visita a Corumbá e Ladário, anunciou investimentos de R$ 3 milhões na compra, ainda este ano, de um navio que será adaptado com consultórios médicos e equipamentos odontológicos.
O 6º Distrito Naval de Ladário já realiza, anualmente, a Aciso (Ação Cívica Social), durante suas operações de exercícios pelo Rio Paraguai. Seus navios têm gabinete odontológico. Nos últimos anos, o Estado e a Prefeitura de Corumbá se integraram à Aciso, levando às comunidades isoladas do Paiaguás serviços como acesso a documentos pessoais, programas preventivos na área de saúde, medicamentos, vacinação, roupas, colchões e cestas de alimentos.
Moura Neto serviu no distrito de Ladário como capitão-de-corveta, em 1981, retornando no final dos anos 90 como almirante para ser seu comandando, quando intensificou a assistência às comunidades que vivem isoladas ao longo do rio. Ele anunciou que a Marinha está adquirindo um navio adaptado para turismo, cujos camarotes serão transformados em consultórios médicos. "A embarcação é fundamental para esse serviço, pois só se chega à região por água", disse.
Entre Corumbá e a foz do Rio Cuiabá vivem cerca de 150 famílias nas barrancas do Rio Paraguai. A maioria vive da venda de iscas aos turistas, em pequenos barracos e sem nenhum contato com o centro urbano. Até 2005, o índice de pessoas sem certidão de nascimento ou carteira de identidade era alarmante. Muitas crianças acompanhavam os pais na vida insalubre de captura de iscas e hoje estão estudando em uma escola construída pelo Estado, no Paraguai-Mirim.
Na semana passada, a Marinha e a Prefeitura de Corumbá realizaram duas ações de apoio aos ribeirinhos atingidos pela cheia no Pantanal. Os navios "Paraguassu" e "Piraim" foram deslocados para duas extremidades – ao norte, até a foz do rio Cuiabá, e ao sul, descendo o Rio até Forte Coimbra, correspondendo a mais de 500 km. Nesse trecho do Rio Paraguai vivem 270 famílias, segundo cadastro da Defesa Civil. Os ribeirinhos receberam medicamentos, lona, alimentos, agasalhos e redes.
HabitaçãoO comandante da Marinha também anunciou a construção de cinco edifícios residenciais em Ladário, para oficiais, sargentos, cabos e marinheiros do 6º Distrito Naval. Dentro de três, serão investidos R$ 5 milhões com a construção de 120 apartamentos. Moura Neto reclamou do orçamento da Marinha, de R$ 1,3 bilhão. Disse que o déficit, de R$ 500 milhões, impede o cumprimento da meta do Governo de reestruturar o setor com a aquisição de novos navios e helicóptero.
(Por Sílvio Andrade,
Correio do Estado, 28/05/2007)