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ipcc
2007-05-28
O homem, por meio das emissões de gases causadores do efeito-estufa, pode não ser o culpado pelo aquecimento global. É o que admite Luiz Carlos Molion, pesquisador especialista em clima da Universidade Federal de Alagoas. Ele contesta a teoria divulgada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) – órgão da ONU que reúne 2.500 cientistas de todo mundo – de que a concentração de CO2 na atmosfera, proveniente principalmente da queima de combustíveis fósseis, é a maior responsável pelas mudanças climáticas.

Molion afirma que a hipótese do aquecimento global está alicerçada em três pilares básicos: a série de temperatura do ar média global dos últimos 150 anos, o aumento observado na concentração de gás carbônico e os resultados obtidos com modelos numéricos de simulação de clima. O professor, no entanto, contrapõem cada um desses pilares e ainda sugere que o mundo esteja vivendo um resfriamento global paulatino, com base em observações realizadas na Amazônia Central.

“Que o aquecimento global existe, não tenha dúvida, mas ele não é uma anomalia”, afirma. Molion explica que a Terra passa por mudanças cíclicas no clima, que alternam períodos frios e quentes. Até 1920, a temperatura da Terra costumava variar, mas sempre em torno de uma média de 0,3ºC abaixo dos níveis atuais, informa.

Da Idade Média, por cerca do ano de 1350, até 1920, o planeta passou pela chamada Pequena Era Glacial, em que as temperaturas ficaram cerca de 1ºC abaixo das verificadas hoje na Europa. De acordo com dados paleoclimáticos, esse fenômeno coincidiu com um período em que o Sol esteve numa produção menos intensa de energia, chegando a um momento, entre 1645 e 1745, em que o Sol não apresentou nenhuma atividade significativa, avalia o professor.

Os anos 1920 funcionam como um marco para o aquecimento global. A partir dessa data, notou-se um acréscimo repentino nas temperaturas da Terra. “O planeta não foi aquecendo lentamente, mas deu um pulo; em questão de 20 anos, a temperatura subiu 5ºC no Ártico”, afirma. Molion diz que não se sabe exatamente o que causou esse aquecimento, mas observa que, na época, quase não se utilizava petróleo.

A resposta do professor para o fenômeno não envolve a emissão de carbono. Ele afirma que esse período de aquecimento brusco coincidiu com uma época de maior produção de energia solar. “O Sol estava mais ou menos quieto no início do Século XX, e, de repente, começou a apresentar uma atividade muito intensa no seu ciclo de 11 anos, atingindo o máximo em 1957”, conta. Essa maior produção de energia ocorreu simultaneamente a um período em que a Terra passou 40 anos sem nenhuma grande erupção vulcânica – o que fez com que a atmosfera permanecesse limpa, facilitando a entrada da energia do sol no sistema “Terra-oceano-atmosfera”.

Molion afirma que, inicialmente, essa energia acumulou-se, em sua maior parte, nos oceanos. “E regiões com grande grau de continentalidade, como os Estados Unidos, mostraram temperaturas superiores as de hoje entre as décadas de 1930 e 1940”. Hoje, até o IPCC já admite a possibilidade de esse primeiro aquecimento, que corresponde a mais de dois terços do aquecimento verificado nos últimos 150 anos, ter sido provocado por causas naturais.

Outro ciclo
Depois desse aquecimento repentino, iniciou-se um resfriamento, entre 1946 e 1976. O pesquisador encontra uma contradição nesse momento histórico (após a Segunda Guerra Mundial), quando a humanidade passou a consumir petróleo num ritmo acelerado, aumentando as emissões de dióxido de carbono. Ele entende que, nesse caso, ao se jogar mais carbono na atmosfera, a temperatura deveria continuar subindo, mas, ao contrário, verificou-se um resfriamento. Isso o IPCC também não explica, observa.

A partir 1977 verifica-se um novo aquecimento da Terra. As temperaturas subiram cerca de 0,32ºC desde então; e essa elevação tem sido atribuída às atividades humanas. Molion, porém, diz que o fenômeno não têm sido verificado em todas as partes do Globo. Um dos argumentos do professor são as mudanças da instrumentação e da localização de muitas das estações climatométricas, o que afeta o resultado dos estudos.

Outro problema é a correção das séries de temperatura com relação à urbanização, o chamado efeito de ilha de calor. “Como 90% dos dados utilizados para justificar o aquecimento global são provenientes de postos localizados em cidades do Hemisfério Norte, particularmente na Europa (com grande desenvolvimento nos últimos 30 anos), é possível que os registros tenham sofrido uma ‘contaminação’ pelos efeitos da urbanização, que é impossível de ser extirpada dos registros”. Ou seja, ele considera que a representatividade, tanto espacial como temporal, dos dados de temperatura seja precária, o que torna questionável sua reunião em uma única série para o Globo como um todo.

Molion também questiona a confiabilidade dos modelos numéricos utilizados para simular cenários futuros. Esses programas comumente apresentam dificuldades em reproduzir as características mais importantes do clima atual - como temperatura média global, diferença de temperatura entre equador e pólo, a intensidade e posicionamento das configurações da circulação atmosférica e  das correntes de jato. Para resolver esse problema, geralmente é realizada uma “sintonia” de dados. “Em outras palavras, literalmente força-se o modelo a dar a resposta desejada, mesmo que, para isso, se alterem processos fundamentais, como a incidência e absorção do fluxo de radiação solar”, afirma o pesquisador.

Ele diz que o próprio IPCC está começando a reduzir as estimativas para o aquecimento global. Primeiro disse que a temperatura iria subir 5,6ºC, agora já está admitindo um aumento de 4,5ºC. O motivo para modificar projeções é porque agora contam com modelos melhores.

O professor conclui que a variabilidade natural do clima não permite afirmar que o aquecimento de 0,6oC, verificado até os dias de hoje, seja decorrente da intensificação (natural ou causada pelas atividades humanas) do efeito-estufa; ou mesmo que essa tendência de aquecimento persistirá nas próximas décadas. “O único fato incontestável é que a concentração de CO2 aumentou 25% nos últimos 150 anos. Porém, isso pode ter sido devido a variações internas ao sistema Terra-atmosfera”, afima.

Molion entende que, como a temperatura dos oceanos aumentou devido ao aquecimento entre 1920-50, a absorção de CO2 por eles pode ter sido reduzida e mais CO2 ter ficado armazenado na atmosfera. “Portanto, não se pode afirmar que foi o aumento de CO2 que causou o aumento de temperatura. Pode ter sido exatamente ao contrário, ou seja, que a concentração de CO2 tenha aumentado devido ao aumento de temperatura do ar e dos oceanos” avalia. Até porque, dados paleoclimáticos indicaram que a concentração desse gás já atingiu níveis superiores aos atuais nos primórdios da humanidade.

Apesar das contestações que Molion impõe às conclusões do IPCC, ele se diz conservacionista e acredita que o caminho certo para a mudança de comportamento da sociedade não é um 'terrorismo climático', e sim a educação ambiental. Relata ainda que é muito importante o gerenciamento das atividades humanas em relação às mundanças locais, que inconstestavelmente tem grande impacto sobre a biodiversidade e os ambientes terrestres.

(Por Sabrina Domingos, CarbonoBrasil, 26/05/2007)

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