As mudanças introduzidas pelo Comitê Executivo da Organização das Nações Unidas para geração de crédito carbono podem inviabilizar a integração de pequenos produtores e interromper os projetos desenvolvidos por empresas como a Sadia e a Seara com seus integrados na cadeia de suínos.
O aumento das exigências para os processos de controle, que requerem novos equipamentos, elevou os custos de geração dos créditos e tornou inviável a implantação dos projetos para os pequenos produtores, afirma Meire Ferreira, diretora-executiva do Instituto Sadia de Sustentabilidade.
A empresa mantém um projeto de neutralização dos poluentes nas propriedades dos criadores de suínos para o seqüestro do gás metano emitido pelos animais, que chega a ser 21 vezes mais poluente que o gás carbônico ().
A previsão era atender 3.500 integrados, e produzir 7 milhões de toneladas de em 10 anos, mas com as mudanças no sistema de aprovação dos projetos apenas 30% deles poderão ser atendidos, deixando de fora os pequenos produtores. "Os projetos já protocolados não serão alterados. Estamos buscando alternativas para reduzir seus custos dos demais, caso contrário, se tornarão insustentáveis", afirma Meire,
A capacidade é para atender mil propriedades de médio porte, que devem gerar de 3,5 milhões a 4 milhões de toneladas de . A Sadia já vendeu cerca de 2,750 milhões de toneladas de em certificado de redução de emissões (CERs) para o European Carbon Fund, sendo 290 mil gerados pela própria empresa e o restante pelos produtores integrados.
A empresa está negociando com o Executive Board uma proposta para incluir os produtores de pequena escala. "Levamos uma manifestação junto à ONU para buscar uma alternativa para incluir os pequenos".
Essa mudança também levou a Seara a interromper seu projeto de MDL. Segundo Nuno Cunha, diretor da Ecosecurities, que investiu na instalação de 11 biodigestores na propriedade dos integrados da empresa em Dourados, a nova metodologia da ONU tornou inviável o desenvolvimento desse tipo de projeto para a cadeia de suínos. "Não vamos investir mais nessa área. A taxa de retorno para remunerar o investimento dobrou e ficou desinteressante", afirma Cunha.
A Seara pretende retomar os estudos para geração de crédito carbono no segundo semestre deste ano. Mas, segundo Cunha, o desenvolvimento dos projetos só compensaria para grandes propriedades, o que não é prática no Brasil, onde a criação de suínos se concentra entre os pequenos produtores.
A retração dos projetos de crédito de carbono levou à desvalorização das ações da AgCert International na bolsa de Londres, trazendo prejuízo para a companhia que atua na implantação de projetos de MDL.
(Por Silvia Rosa,
Gazeta Mercantil, 28/05/2007)