A paisagem das regiões Norte e Noroeste do estado deve mudar radicalmente nos próximos anos. Com a mensagem que o governo enviou à Assembléia Legislativa reduzindo drasticamente as exigências para plantio de florestas comerciais, a tendência é que grandes indústrias de celulose se implantem no Rio. Com elas, virão as enormes plantações de eucalipto, conhecidas como desertos verdes.
O projeto é a menina dos olhos do secretário de Desenvolvimento, Julio Bueno, que também trabalhou no governo do Espírito Santo, onde está instalado o maior complexo de fabricação de celulose no mundo, da Aracruz. Ambientalistas garantem que o projeto do governador foi feito especialmente para a empresa . A Aracruz diz que ainda está analisando o “potencial da região”.
O projeto de lei prevê a redução da área de mata nativa obrigatória em cultivo de madeira comercial de 30% para até 12%. Além disso, flexibiliza as regras para conseguir autorização de plantação nessas regiões. O governador Sérgio Cabral afirma que diante da atual degradação do solo no Norte e Noroeste, a medida será positiva: “É um instrumento novo e produtivo para os agricultores daquela região. Combinada com outras culturas, essa pode ser a redenção econômica do Noroeste fluminense”, defendeu.
Já o coordenador da Rede Alerta contra o Deserto Verde, Sérgio Ricardo, discorda: “É uma falácia dizer que o eucalipto traz desenvolvimento econômico e social. Nesses desertos verdes você não tem fauna, nem flora e a miséria cresce”, afirmou. Diretora do MST, a agrônoma Fernanda Matheus apóia a tese: “Essas áreas já estão degradadas. O certo é discutir o reflorestamento com planta nativa ou projetos de horticultura para pequenos agricultores”. Um dos poucos empresário do ramo no estado, Rubens Muniz, defende a mudança: “Não se trata de substituir as culturas, mas de dar mais uma opção para o agricultor escolher”, explica.
Crise internacional
A fabricação de celulose foi responsável pela mais grave crise internacional entre Uruguai e Argentina nos últimos anos. No ano passado, manifestantes argentinos bloquearam por mais de 80 dias a passagem na principal rota entre os dois países com apoio do presidente argentino, Néstor Kirchner. O motivo para o conflito foi a intenção de duas indústrias de papel — uma espanhola e outra finlandesa — de instalar às margens do Rio Uruguai, que divide os dois países, o maior complexo mundial de celulose.
Votação dentro de dez dias
O projeto de lei que estabelece os novos limites para o cultivo de eucalipto no estado deve ser votado em dez dias. Essa é a expectativa do presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani (PMDB). “A mensagem está em regime de urgência, está tramitando dentro de um calendário discutido entre a presidência e os líderes”, explicou o parlamentar.
O presidente da Casa disse que os secretários de Desenvolvimento Econômico, Julio Bueno, e de Ambiente, Carlos Minc, já foram duas vezes à Alerj debater a proposta com os deputados. As comissões ainda podem fazer novas audiências, mas nesta terça-feira (29/05) o projeto começará a ser discutido no plenário e uma semana depois deve ser votado.
(Por Paulo Celso Pereira, O Dia, 26/05/2007)