Salvador foi a capital escolhida pelo Greenpeace para representar o Brasil num protesto que reuniu ontem (27/05) manifestantes em 16 cidades de 11 países. O objetivo da Marcha Azul é pressionar a Comissăo Internacional da Baleia (CIB) a votar contra a caça do animal no encontro que começa hoje em Anchorage, no Alasca. Principal fórum de decisăo sobre a questăo baleeira, a reuniăo pode revogar a medida de preservaçăo moratória que proíbe, há 20 anos, a caça dos mamíferos cetáceos.
“O Brasil, ao lado da Argentina e do Chile, tem exercido forte pressăo contra o bloco pró-caça, encabeçado pelo Japăo, com o apoio da Islândia e da Noruega”, afirma a coordenadora de campanhas do Greenpeace e bióloga Leandra Gonçalves, que veio de Săo Paulo especialmente para a missăo. A manifestaçăo, que contou com a participaçăo de representantes de nove ONGs baianas, saiu de Ondina ŕs 9h, com destino ao Farol da Barra. Para simbolizar a cor dos oceanos, todos os integrantes vestiram camisas azuis.
“Salvador foi escolhida por ter sido uma das primeiras cidades brasileiras onde houve a caça ŕs baleias e, hoje, dispőe de uma grande mobilizaçăo local”, disse Leandra Gonçalves. Um dos importantes frutos do trabalho de preservaçăo que vem sendo realizado na cidade e no estado e, principalmente, da proibiçăo da caça ao animal, é o crescimento da populaçăo de jubartes na costa baiana. “Já estăo aparecendo baleias a 600m da praia de Salvador”, revela a bióloga.
Países - A Marcha Azul também foi realizada em países como Argentina, Chile, Costa Rica, Portugal, Austrália e Nova Zelândia. Em decorręncia dos protestos, a Nicarágua, aliada do Japăo, anunciou que vai mudar seu posicionamento. O Equador, que năo participava das reuniőes havia 20 anos, também anunciou que vai integrar o encontro para votar contra a caça ao animal.
As baleias que vęm ao litoral brasileiro para se reproduzir săo as mesmas que săo mortas por japoneses na Antártica, continente que visitam em busca de alimentaçăo. “O Japăo alega que pode caçar porque pratica a caça científica. Na verdade, trata-se de um artifício para comercializar o animal”, diz Maria do Socorro Reis, coordenadora do Instituto Mamíferos Aquáticos, ONG que também participou da marcha.
Na última estaçăo de caça, ocorrida entre os meses de dezembro e março passados, o Japăo matou 830 baleias. “Apesar de todos os esforços, as jubartes continuam ameaçadas de extinçăo. Caso a liberaçăo aconteça, o Japăo pretende caçar 50 delas por ano”, ressalta a coordenadora de campanhas do Greenpeace.
O Brasil é um dos 73 países que compőem o CIB. Desde 1999, é uma das naçőes que lutam pela criaçăo do santuário de baleias do Atlântico Sul. Mas, para a aprovaçăo do projeto, é preciso haver tręs quartos dos votos da comissăo. Por enquanto, os dois únicos santuários de baleias do mundo estăo localizados nos oceanos Antártico e Índico.
Captura começou no século XIIA captura indiscriminada de baleias com fins comerciais teve início no século XII, na área do Golfo de Biscaia, no Atlântico Norte. A exploraçăo agravou-se partir de 1920, quando a atividade baleeira adquiriu características industriais. No Brasil, a caça a esses animais começou no século XVII, desde o litoral sul da Bahia até a Paraíba.
Devido ao forte declínio das populaçőes de baleias, a indústria sentiu-se forçada a regulamentar a caça ao redor do mundo, criando, em 1946, a Comissăo Internacional da Baleia. De acordo com o Greenpeace, o verdadeiro objetivo era conservar as populaçőes de baleias para que pudessem ser devidamente exploradas. Assim, ŕ medida que uma espécie rareava, partia-se para a caça de outra.
Mais de dois milhőes de baleias foram mortas neste século, segundo dados do Greenpeace. Estima-se que cerca de 50 mil a 60 mil baleias foram mortas por ano durante o período da caça comercial mundial, que atingiu seu pico em 1961, com o recorde de 70 mil animais mortos. Para tentar conter o ritmo de caça, a Comissăo Internacional da Baleia declarou, em 1986, a moratória da caça por tempo indeterminado. Ainda assim, desde que a moratória foi declarada, quase 14 mil baleias já foram mortas. Destas, sete mil foram abatidas somente pelo Japăo.
(Por Adriana Jacob,
Correio da Bahia, 28/05/2007)