A audiência pública que votou sábado (26/05) propostas de alteração no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre teve momentos tensos. Marcada para as 9h, a reunião começou com mais de duas horas de atraso. Depois das primeiras votações, ambientalistas e integrantes do Movimento Porto Alegre Vive, que congrega diferentes associações de bairro, se retiraram do Salão de Atos da Ufrgs, inconformados com o que classificaram de 'explícita manipulação' da maioria do público. No saguão, protestaram com faixas e gritos de 'audiência comprada, cidadania roubada'. Depois, o grupo se dirigiu ao Foro Central e encaminhou ao promotor de plantão pedido de anulação da audiência.
Os representantes dos movimentos, favoráveis à redução da altura limite dos prédios na Capital, acusaram os empresários e os sindicatos ligados à construção civil de coação e distribuição de alimentos em troca de apoio às propostas que interessavam a categoria. 'Há pessoas que nem sabem o que estão votando', protestou Marco Pucci, do Movimento Moinhos Vive. Segundo os moradores, havia participantes sem comprovante de residência. No Salão de Atos, algumas pessoas não escondiam a desinformação. 'A gente veio da Restinga porque nos convidaram e pagaram o lanche', admitiu um adolescente. Ele não soube explicar as propostas que defendia.
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Porto Alegre (Sticc) distribuiu informativo dando instruções. 'Colegas do nosso sindicato estarão uniformizados organizando como você deverá votar. Vamos nos mobilizar para garantir nosso emprego e dignidade', dizia o texto. No auditório, a maioria do público seguiu as instruções de integrantes do Sticc, levantando os crachás sempre que davam sinais. O vice-presidente do Sticc, Valter Souza, disse que os trabalhadores mobilizaram a comunidade para garantir emprego na Capital. Segundo ele, os alimentos distribuídos foram comprados com recursos do sindicato. 'Seria insensatez não dar condições para as pessoas ficarem o dia todo aqui.'
'Prefeitura não podia monitorar'
O secretário do Planejamento Municipal, José Fortunati, afirmou que a audiência pública de revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA), realizada sábado, seguiu os parâmetros democráticos. 'A audiência era aberta a toda a população e a prefeitura não podia monitorar quem participaria', disse, referindo-se aos protestos de ambientalistas e integrantes de associações de bairro de que a maioria do público teria sido manipulada. Ele valorizou os 1.773 inscritos, ressaltando que traduz o engajamento da população.
Fortunati enfatizou ser natural no processo democrático que um grupo se organize para formar maioria. 'O fato de uma associação com mais recursos contratar ônibus ou um sindicato dar alimentação para as pessoas não é de nossa competência', argumentou. Em relação às regras da audiência, afirmou que todas foram seguidas desde o início dos debates, em fevereiro.
(Correio do Povo, 28/05/2007)