Nos primeiros quatro meses de 2007, o desmatamento em Mato Grosso caiu em média 90% em relação ao registrado no mesmo período nos anos de 2006 e 2005. Na estimativa por biênios, em que são consideradas as médias de agosto a julho do ano seguinte, a tendência também é de queda nos indicadores – 63%, até abril.
Os resultados estão contidos em quatro relatórios do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), que foram lançados ontem (24/05) pelas ongs Instituto Centro de Vida (ICV) e Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON). Os desmates são identificados por meio de imagens de satélite.
“Desde o início do ano, temos acompanhado uma redução muito significativa, em torno de 90%, nos indicadores. Com os resultados do mês de abril, conseguimos confirmar a tendência”, explica o coordenador-adjunto do ICV, Laurent Micol.
Vários fatores podem explicar a queda. O principal deles, diz o ambientalista, é econômico. “A redução do desmatamento coincide com um período de queda no preço das principais commodities (produtos para exportação) agrícolas e de sobrevalorização do dólar”.
O caso da pecuária, segundo ele, é exemplar. O preço da arroba de carne despenca desde 2005 e leva consigo as reservas financeiras do setor. Sem dinheiro para investir, não há abertura de novas áreas. “O desmatamento é uma operação muito cara”.
Para abertura de pastagens, o custo médio é de R$ 1 mil por hectare. Para transformar um hectare de floresta em lavoura de soja, a conta pode até triplicar. Micol lembra ainda o efeito da queda do dólar sobre a rentabilidade da agricultura local.
“Antes o dólar alto compensava as perdas provocadas pela infra-estrutura deficitária. Hoje isso não ocorre mais. A produção do Paraná, que está na beira do porto, é mais rentável que a mato-grossense”.
Mas não se trata apenas de uma circunstância econômica. Outra possível contribuição para a derrubada dos índices teria vindo das grandes operações de fiscalização da Polícia Federal e do Ibama nos últimos anos. O desmonte de quadrilhas e de esquemas de exploração irregular contribuiu para frear o ímpeto da devastação.
“Trata-se de um efeito inibidor, mas que não é duradouro. Ou seja, é preciso dar mais força às estruturas de fiscalização constante, para que os eventuais infratores considerem cada vez mais real a possibilidade de punição”, defende.
No caso do setor madeireiro, em que isso tal acompanhamento já ocorre, estaria ocorrendo uma mudança de rumos outrora impensável. “O valor da madeira documentada é hoje muito maior, o que significa que aumentou a rentabilidade do manejo florestal. Com isso, o valor das terras com florestas também está subindo”.
Sobre o papel da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), o ambientalista defende que atual sistema de monitoramento seja aprimorado, permitindo que desmates sejam detectados – e gerem autuações - em tempo real. “Não é algo impossível de fazer. Com a estrutura disponível hoje, e utilizando ao máximo o potencial das 16 regionais da Sema, bastaria investimento e alguns ajustes”.
(Por Rodrigo Vargas,
Diário de Cuiabá, 25/05/2007)