O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou na quinta-feira (24/05) que seu país "não teme as ameaças" internacionais e manterá suas atividades nucleares, que já estão perto do "objetivo final" do país. As declarações de Ahmadinejad chegam um dia depois da divulgação de um novo relatório da agência nuclear da ONU, que criticou o país por acelerar o processo de enriquecimento de urânio e afirmou que o conhecimento internacional das atividades nucleares do Irã está diminuindo. O relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) foi visto como uma preparação para a adoção de novas sanções contra o Irã por seu programa nuclear.
"O que querem os inimigos é evitar que o Irã tenha acesso ao uso pacífico da tecnologia nuclear. Seu objetivo é erradicar o regime" iraniano, disse Ahmadinejad hoje. O relatório da AIEA, elaborado pelo chefe da agência da ONU, Mohamed ElBaradei, também acusa Teerã de bloquear os esforços de investigação de atividades nucleares suspeitas. De acordo com o texto, a agência não pode "garantir a natureza exclusivamente pacífica" das atividades nucleares do Irã.
Armas nucleares
ElBaradei afirmou nesta quinta-feira que concorda com a avaliação da inteligência americana de que o Irã será capaz, daqui a três a oito anos, de produzir armas nucleares. Ele fez um apelo aos Estados Unidos e aos membros do Conselho de Segurança (CS) da ONU para que abandonem a "retórica" e tentem coibir efetivamente o programa iraniano.
O Irã só poderá ser mantido afastado das armas nucleares "através de um diálogo abrangente", disse ElBaradei. "Estamos nos aproximando de um Irã com capacidade e conhecimento nuclear, sem que a AIEA possa verificar a natureza e alcance do programa", afirmou ele em uma entrevista coletiva em Luxemburgo. Pressionado pelos EUA, pela França e pelo Reino Unido, o CS da ONU já impôs dois pacotes de sanções contra Teerã para tentar obrigar o Irã a abandonar o enriquecimento de urânio. Apesar das desconfianças crescentes, o governo iraniano insiste em afirmar que o programa tem fins pacíficos e visa a obtenção de energia.
Negociação
ElBaradei afirmou que a comunidade internacional deve buscar um diálogo com Teerã. "Uma forma de fazer isso, ao invés de continuar com a retórica, é sentar na mesa de negociações", disse. O diretor da AIEA acrescentou que os EUA deveriam se inspirar em negociações internacionais que recentemente desataram a crise com as atividades nucleares da Coréia do Norte --apesar dos atrasos no cumprimento das exigências por este país.
ElBaradei disse ainda que o monitoramento das regras do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, do qual o Irã é signatário, deve ser "drasticamente reformado". Segundo ele, a aquisição de tecnologia para armas nucleares por parte da Índia, Paquistão, Israel e Coréia do Norte são exemplos de falhas no monitoramento atual. O diretor disse que proporá reformas nas próximas semanas. Uma das idéias que está sendo debatida é a criação de um "banco de combustível nuclear" internacional, que poderia convencer países que querem usar energia nuclear a não enriquecerem urânio individualmente.
(Folha Online com Efe e Associated Press, 25/05/2007)