Uma estranha aliança entre índios da etnia Tembé e invasores de suas terras transformou nesta quinta-feira (24/05) cinco pessoas em reféns na cidade de Capitão Poço, região nordeste do Pará. Os reféns são o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Belém, José Cristiano Martins, e o chefe da unidade avançada do órgão, Francisco das Chagas, além de outros três técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Índios e colonos se dividiram na ação: os tembés entraram na sede da Funai, enquanto os agricultores fizeram seus reféns na sede do Incra. O motivo do protesto simultâneo seria uma cobrança dos índios às autoridades sobre a desocupação de suas terras invadidas há mais de vinte anos pelos colonos, enquanto estes exigem que o Incra regularize novos assentamentos para remanejar as famílias que seriam expulsas da reserva Tembé.
O cacique Edinaldo Tembé informou ao ESTADO que, para liberar os reféns, os índios querem a presença na cidade de uma autoridade do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do presidente da Funai, Márcio Meira, e de representantes do poderes judiciário e legislativo.
O problema atinge os dois lados e eles se uniram para uma pauta conjunta de reivindicações. Nós estávamos reunidos com representantes da Funai, Incra e Ministério Público Federal quando eles decidiram fazer a ocupação dos prédios e manter a gente como refém até ter uma resposta de como essa situação vai ficar", contou Chagas.
A Polícia Militar foi chamada, mas acabou impedida de entrar nos prédios ocupados. Três servidores da Funai temem que os índios levem os reféns para a aldeia caso a PM tente libertá-los. A assessoria do Ministério Público Federal, em Belém, informou que três servidores do órgão estão em Capitão Poço intermediando uma saída pacífica que contemple as reivindicações dos índios.
(Por Carlos Mendes,
Estadão, 24/05/2007)