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ecologia profunda / concreta Lama Santem ambientalistas
2007-05-25
Será que o ideal da ecologia profunda fracassou? Por que ele não "dá certo" na nossa sociedade? Ousar responder a essas questões poderia levar a soluções rasas relacionadas a uma sociedade imersa no consumo e no individualismo, mas uma resposta-reflexão exige um debate bem mais complexo, profundo e talvez interminável. Porém, o Lama Santem acredita que é possível praticar a ecologia profunda no nosso dia-a-dia, em pequenos gestos e atos do cotidiano.

Foi este o tema de sua palestra na tarde da última quarta-feira (23/05), dentro da programação da Semana Nacional da Mata Atlântica, realizada no Centro Cultural 25 de julho, em Porto Alegre. Lama Santem, ou Alfredo Aveline, ex-professor de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e contemporâneo do professor José Lutzenberger na época de ouro do movimento ecológico gaúcho – expoente para o nascimento desse mesmo movimento em nível nacional – começou sua palestra dizendo à platéia que "os argumentos da década de 70 continuam intactos". E foi justamente na década de 70 que teve início o Movimento Ecologia Profunda, proposto pelo filósofo norueguês Arne Naess (1973) como resgate do modo de vista do naturalista Henry Thoreau (1817) - uma mudança de paradigma em relação ao papel do homem no meio ambiente. Ao invés de dominar e subjugar a natureza para crescer de qualquer forma e a qualquer custo, a Ecologia Profunda defende a integração do homem à natureza para evoluir com ela, dentro dela, sem separar-se dela. Entra nessa visão a questão do valor intrínseco dos meios naturais, que não são vistos exatamente como meios, mas como existenciais em si mesmos e dignos de tanta consideração quanto a vida humana.

Quase 40 anos depois que os pensadores do Clube de Roma lançaram "Os Limites do Crescimento", na mesma época em que a Ecologia Profunda nascia e se espalhava como um ideal de libertação humana da sociedade consumista, estamos de volta aos mesmos tipos de questionamento, assinalou o Lama. No Brasil, por exemplo, perguntamos aonde vai nos levar Angra 1. "Vamos ser exportadores de energia e mendigar energia nuclear, uma tecnologia cara e ultrapassada", disse. "Se tivermos que instalar 20 gigawatts por ano, levando em conta o argumento oficial de que nossas reservas de energia se esgotaram a partir de 2000, precisaremos ter mais 10 Angras. São argumentos muito estranhos, como se o modelo predatório atual pudesse ser perpetuado", criticou.

O Lama resgatou um pouco da história do movimento ecológico brasileiro a partir de 1974, mesma época em que o governo militar apostava na energia nuclear e em que ele, como professor da UFRGS, ia a campo testar técnicas consideradas hoje "alternativas", como a energia solar. Lembrou o acidente com o Césio 137, em Goiânia, quando o governo do Rio Grande do Sul colocou em sua legislação a proibição de que se instalassem usinas nucleares em solo gaúcho – ato imediatamente vetado pelo governo federal, por alegar sua "inconstitucionalidade"..

Obstáculos
A decadência da idéia de harmonia entre homem e natureza é filosófica e psiciológica, disse o Lama. "Olhamos para o mundo e ele parece estar pronto e fixo, parece que não há alternativas.. Mas nós colocamos obstáculos à alteração da realidade", argumentou. "O primeiro obstáculo é acreditarmos que a mudança não é possível. O segundo é quando acreditamos na mudança, dizemos que gostaríamos de mudar, mas logo desistimos porque vemos que o problema é muito grande para ser mudado", descreveu.

De acordo com Lama Santem, a partir do terceiro obstáculo surgem impasses éticos. Por exemplo, no terceiro obstáculo, as pessoas conseguem perceber que se não conseguem mudar tudo, podem mudar a si mesmas, "mas aí começa um outro problema – o quarto obstáculo, que é a percepção de ‘eu mudei’". Porém, tal mudança é uma ilusão, pois, de acordo com ele, "as pessoas dizem que mudaram, mas não agem como se tivessem mudado, e mais: não se envergonham disso".. O quinto obstáculo aparece quando as pessoas não apenas não mudam – mesmo tendo pensado o oposto -, mas praticam atos negativos e continuam não se envergonhando deles. E o sexto obstáculo é a falta total de compaixão: "A pessoa age e não se importa, não entende os outros seres no seu próprio contexto", resumiu.

Responsabilidade universal
Na visão budista, do Dalai Lama, conforme o Lama Santem, o processo de mudança começa com a noção de responsabilidade universal de cada pessoa. "É a compreensão de que não apenas estamos todos interligados em rede, mas que há uma inseparatividade, de que não podemos, por exemplo, separar a vaca do pasto, de que um constrói o outro, e não apenas se relaciona com o outro", exemplifica. "A inseparatividade é real, nós nos construímos pelas relações que estabelecemos com outros seres, pois quando um ser fica isolado, ele afunda e desaparece."

A ecologia profunda trata também do cuidado com a natureza, da mesma forma como as pessoas normalmente cuidam de suas casas, de seus entes queridos. "Cuidar é dar nascimento a. Existem seres na natureza que nunca tiveram um segundo nascimento, que é o nascimento pelo olhar do outro. Em vez disto, geralmente praticamos a indiferença", refletiu, concluindo que "nosso desafio é olhar para o outro, colocar para fora a dimensão de alegria no contato com outros seres".

Saiba mais
Lama Padma Samten foi o primeiro brasileiro a ser ordenado Lama na linhagem Ningma. A cerimônia, inédita no Brasil, foi conduzida por seu mestre, S.Ema. Chagdud Tulku Rinpoche em 1996. Atualmente o Lama viaja por vários estados do Brasil e pelo interior do RS a convite de seus alunos, apresentando os ensinamentos tradicionais do budismo tibetano de forma acessível e inspiradora. Lama Samten tem a habilidade de motivar as pessoas a orientar suas vidas cotidianas por valores espirituais e universais, resgatando o respeito pelo ser humano e a bondade presentes no coração de todos aqueles que o ouvem. Tem dedicado todo seu tempo e energia não só a ensinar o budismo, mas também a trabalhar pela paz mundial, pelo diálogo interreligioso e intercultural.

É criador, presidente e diretor espiritual do Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) , fundado em 1986 na cidade de Porto Alegre. Com o nome de Alfredo Aveline, foi professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) por 25 anos, no departamento de Física. Neste período, além de sua atuação acadêmica, exerceu atividades no movimento ecológico, no movimento comunitário, no estudo de energias e tecnologias alternativas e das alternativas comunitárias. Paralelamente recebeu ensinamentos de vários mestres budistas no Brasil e no exterior e, em 1993, foi aceito como discípulo por Sua Eminência Chagdud Tulku Rinpoche.

Fonte: http://www.bodisatva.org/

(Por Cláudia Viegas, AmbienteJÁ, 25/05/2007)

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