O criador do Programa Brasileiro de Álcool (Pró-Álcool) e presidente da Oscip Instituto do Sol, José Walter Bautista Vidal, disse nesta terça-feira (23/05), em audiência pública, que o Brasil está sendo incompetente ao não assumir sua vocação de produtor de energia limpa para o mundo. Segundo ele, só o país pode evitar uma guerra mundial pelo petróleo, por ser o único a possuir dimensões continentais, água, sol, terras e a melhor tecnologia para produzir energia sustentável. "Precisamos ter competência para responder às expectativas e ocupar o mercado mundial", defendeu.
"Temos que nos capacitar para responder a essas demandas, que são gigantescas e não podem ser tratadas de maneira amadora. Assim como nós criamos a Petrobras para resolver o problema do petróleo, precisamos criar uma empresa para transformar o Brasil na maior potência de energia líquida", alertou Vidal.
A audiência foi realizada pela Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional para debater o Programa de Produção e Uso de Biodiesel, lançado pelo governo federal em 2004.
Bautista Vidal disse que o programa tem "um equívoco gravíssimo" em sua concepção. "É um absurdo montar um programa para retirar a glicerina do óleo vegetal só porque os motores a diesel da Mercedes Benz não queimam esse produto", afirmou.
Segundo ele, já existe tecnologia para queimar glicerina e os óleos vegetais são combustíveis muito melhores do que os derivados do petróleo. O processo de retirada da glicerina do óleo vegetal encarece o processo e impede que pequenos produtores possam produzi-lo, acrescentou o especialista.
Recursos limitados
O secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Ruy de Goes Leite de Barros, contestou os argumentos de Bautista Vidal: "O Brasil está na vanguarda do mundo com relação ao biocombustível e o programa nacional para a produção desse tipo de combustível avança rapidamente", disse.
"Temos o programa mais arrojado do mundo em relação ao álcool, que é uma realidade; a gasolina brasileira já contém 24% de álcool misturado e, com relação ao biodiesel, em quatro anos se avançou muito", destacou.
Barros afirmou que estudos internacionais apontam ser impossível substituir totalmente os derivados de petróleo pelo biodiesel, como defendeu Vidal. Segundo ele, o índice máximo de substituição possível no mundo é de 10% até 2050. "Não há como fazer mais que do isso, pois não existem sequer recursos naturais, como terras, para o cultivo das oleaginosas", acrescentou.
Ele ponderou que os biocombustíveis também causam problemas ambientais, pois ocupam terras, consomem água e podem usar agrotóxicos. Ainda assim, disse Barros, as vantagens em relação aos derivados de petróleo são inegáveis: a substituição de 1 quilo de petróleo por um de biocombustíveis representaria redução de 3 quilos de gás carbônico da atmosfera.
Comissão geral
O deputado José Guimarães (PT-CE), autor do requerimento de audiência pública, disse que vai pedir à Mesa Diretora a formação de uma comissão geral para debater em maior profundidade o programa nacional de biocombustíveis.
(Por Maria Neves e Paulo Roberto Miranda, Agência Câmara, 23/05/2007)