Técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), vindos de Porto Alegre, vistoriam com helicópteros - hoje (23/5) e amanhã - mais de 70 áreas de silvicultura entre os municípios de Vila Nova do Sul e Pelotas. Na segunda-feira, uma visita coordenada pelo deputado estadual e presidente da Comissão de Economia e Desenvolvimento, Nelson Härter (PMDB), procurou destacar para cerca de 160 pessoas os benefícios da cultura exótica em propriedades de Capão do Leão, Cerrito e Piratini. Em pleno período de discussões em torno do zoneamento ambiental, as florestas de eucalipto da Zona Sul estão no foco tanto de instituições contrárias quanto de organizações favoráveis ao florestamento.

De acordo com Härter, a atividade - que reuniu representantes de instituições públicas e privadas, políticos, imprensa e profissionais de setores envolvidos na temática, como técnicos da Associação Rio-grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e da Votorantim Celulose e Papel (VCP) - atingiu seu objetivo principal. “Uma visita in loco é melhor do que qualquer discurso. A sociedade precisa ver com os próprios olhos o que já constatei desde que me engajei nesta luta: não há agressão alguma ao meio ambiente. Acima de tudo, a Fepam deveria ter organizado um zoneamento econômico e social também, porque a Região Sul não pode se dar ao luxo de perder mais estes investimentos”, defendeu o parlamentar.

Por outro lado, a iniciativa da Fepam em suas visitas aéreas, deve dar novo fôlego às ações de elaboração do zoneamento ambiental, divulgado originalmente em março deste ano. O documento visa o estabelecimento de diretrizes para a ocupação territorial destinada à silvicultura e indica áreas frágeis para o plantio de espécies exóticas, como o eucalipto e a acácia. Apesar de mostrar cerca de oito milhões e 300 mil hectares disponíveis - quase um terço da área útil total do Estado - o projeto é apontado como estopim da crise deflagrada no meio ambiente gaúcho, já que possui regramentos considerados muito rígidos pelas empresas florestadoras, como a VCP.

Ainda polêmico
Na avaliação do conselheiro da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), o biólogo especialista em impacto ambiental, Francisco Milanez, a situação de impasse nas discussões do setor é preocupante. “O que está havendo é uma radicalização, como sempre costuma acontecer com questões ambientalistas. A proposta da Fepam me parece muito sensata e séria, porque precisa se ter o cuidado de não defender o interesse de algumas empresas e ir contra o interesse de todos os agricultores da Metade Sul”, enfatizou.

Para Milanez, a liberação de plantio nos moldes que pedem as florestadoras colocaria em risco o futuro da flora local. “O dano ambiental não está sendo levado a sério. As pessoas não estão se dando conta de que são os produtores da região que vão acabar perdendo. Conheço a situação de florestas em lugares como o sul da Bahia e o Espírito Santo e o negócio não é tão bom como parece”, afirmou. “Nós podemos ficar com a celulose, desde que isso não acabe gerando verdadeiros colapsos e desertos verdes daqui a alguns anos, originando mais e mais marginais à beira das cidades. E, para isso, a única forma seria implantar o eucalipto respeitando as normas do zoneamento.”

(Diário Popular, 23/05/2007)