Em meio às suspeitas de envolvimento do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, com a máfia das obras públicas, o governo abandonou nesta quarta-feira (23/5) a discussão sobre as obras de energia elétrica previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Rondeau e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, eram esperados para um debate com empresários do setor, mas desmarcaram de última hora. Segundo os organizadores do evento, ambos receberam o convite há dois meses para participar do Fórum chamado PAC: Perspectivas, Impactos e Desafios na Visão dos Agentes do Setor Elétrico.
O evento foi organizado com o incentivo do ministério de Minas e Energia e da Casa Civil que pediram ao setor que se organizasse e apresentassem seus pleitos. A ausência foi sentida pelos empresários que, em alguns casos, se deslocaram de outras cidades somente para ouvir as apresentações dos ministros.
Nem mesmo representantes dos ministros foram enviados para debater o assunto com o setor privado.
Na avaliação dos empresários, as denúncias contra o ministro geram insegurança para os investidores, mas ninguém acredita que as obras do PAC ficarão paralisadas. "Temos certeza que o PAC é tão grande e importante que não pode ser paralisado por uma pessoa", disse o presidente da Associação dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape), Mário Menel.
Eventuais atrasosA preocupação, segundo ele, é que "sob a égide de outro ministro" haja atrasos na fase de regulamentação das medidas do PAC aprovadas pelo Congresso. Ele defendeu que um eventual substituto de Rondeau tenha perfil técnico e trânsito político para manter a interlocução com o setor e "fazer com que as coisas andem" no Congresso.
"O impacto nos processos em andamento, que passam pelo ministro, será maior ou menor dependendo do tamanho da mudança no Ministério: se será só o ministro ou todo o segundo escalão", avalia o presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), Luiz Fernando Vianna.
"Toda denúncia leva insegurança para os investidores. O tempo de resposta do governo para essa crise é muito importante para amenizar este clima de insegurança", alerta Vianna.
O presidente da Associação Brasileira dos Agentes Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel), Paulo Pedrosa, disse que não vê ameaça de interrupção na interlocução com o governo. "A interlocução que tem havido é maior que as pessoas. Independente da pessoa do ministro, este espaço será preservado", disse.
Um dos nomes que circulam em Brasília como possível substituto de Rondeau, o presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman, não quis comentar as denúncias contra o ministro. "A Aneel vai se relacionar com o ministro que tiver", limitou-se a responder aos jornalistas.
(Renata Veríssimo,
Estadão, 22/05/2007)