Ações concretas e urgentes de proteção climática, aumento da eficiência energética e ênfase na promoção da inovação tecnológica. Essas são as principais recomendações feitas por representantes de 13 academias de ciências para o Grupo dos Oito (G8), que reúne os países mais industrializados e economicamente desenvolvidos do mundo mais a Rússia. As academias dos países que compõem o G8 (Reino Unido, Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Japão, Canadá e Rússia) e dos cinco maiores países em desenvolvimento (Brasil, África do Sul, México, Índia e China) foram convidadas pelo próprio G8, pelo terceiro ano consecutivo, a elaborar orientações para a cúpula que será realizada de 6 a 8 de junho.
O documento foi entregue na última quarta-feira (16/5) em Berlim, por representantes das academias de ciências, à primeira-ministra alemã, Angela Merkel. Ela ocupa este ano a presidência do G8. A Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi representada na reunião pelo médico Eduardo Moacyr Krieger, que presidiu a instituição por 14 anos, até o início de maio.
De acordo com Krieger, pela primeira vez os cientistas foram recebidos pessoalmente por uma chefe de Estado do G8 para a entrega das recomendações. “Isso mostra que, com a dramaticidade do problema ambiental revelada nos últimos relatórios sobre o aquecimento global, há uma compreensão maior de que não é possível discutir os rumos dos países sem subsídios científicos”, disse à Agência FAPESP.
A Alemanha, ao contrário de países como Estados Unidos e Canadá – que resistem à adoção de metas para redução de emissões de carbono –, apresentará na cúpula um comunicado contundente a respeito da necessidade de adotar medidas para manter o aumento médio das temperaturas em um máximo de 2oC até o fim do século. “O assunto do clima é recorrente nas reuniões do G8. A novidade da nossa recomendação é que juntamos dois temas: clima e energia. Destacamos que as mudanças climáticas estão ocorrendo em grande parte por causa da matriz energética que usamos”, afirmou Krieger, que também é diretor da Unidade Clínica de Hipertensão Arterial no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Eficiência energéticaO documento sugere uma mudança de padrões de eficiência energética em edificações, aparelhos, motores, sistemas de transporte e no próprio setor energético. Propõe também uma mudança de matriz de consumo, com a criação de novas fontes de energias renováveis e o fortalecimento do intercâmbio econômico e tecnológico com os países em desenvolvimento. “Isso é importante porque os países em desenvolvimento aumentarão seu consumo per capita de energia. Recomendamos que eles já se desenvolvam dentro dos novos paradigmas, com uma matriz mais limpa e energeticamente menos dispendiosa”, destacou Krieger.
Durante a reunião, o pesquisador falou em nome das academias dos países em desenvolvimento e ressaltou a necessidade de privilegiar competências endógenas para aplicar as novas formas de energias. “O Brasil, por exemplo, tem na biomassa e no etanol uma competência tradicional que precisa ser aproveitada, tanto para mudar a matriz energética mundial como para alavancar o desenvolvimento local”, disse.
Os cientistas recomendaram ainda que o G8 invista fortemente em ciência e tecnologia relacionadas à eficiência energética, a recursos energéticos sem emissão de CO2 e a tecnologias de remoção de carbono. Outra sugestão é que todos os países definam e implementem medidas para reduzir o desmatamento global.
“Uma das contribuições brasileiras ao documento teve como base um estudo realizado no Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais]. Ele indica que uma redução de 50% no desmatamento de florestas tropicais até 2050 eliminaria carbono suficiente para atingir 10% da meta para estabilização do aquecimento global. A primeira-ministra alemã reagiu bem a essa idéia”, disse o representante da ABC. O governo alemão deseja que a cúpula aceite diminuir, até 2050, as emissões de carbono para um nível 50% menor do que os de 1990 e que promova um sistema de comércio de cotas de carbono como instrumento para elevar o preço das emissões e, com isso, incentivar a criação e adoção de tecnologias limpas.
O Desafio da inovaçãoAlém do documento sobre clima e energia, os cientistas encaminharam ao G8 recomendações para a promoção e proteção da inovação. De acordo com Krieger, a questão da inovação tem uma grande importância, principalmente para os países em desenvolvimento. “Ela é nosso calcanhar-de-aquiles. Fizemos grande esforço para criar nossa competência científica, mas estamos apanhando um pouco para transformar esse conhecimento em desenvolvimento”, disse.
Os cientistas sugerem que o G8 trabalhe com países em desenvolvimento para construir um sistema de ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento econômico e social e também para promover a educação e o treinamento de seus futuros líderes, particularmente na ciência, na engenharia, na tecnologia e na área médica. “Outro ponto importante do documento é a proteção da inovação. A inovação cabe ao setor produtivo. Para que a indústria faça pesquisa, no entanto, é preciso ter capital de risco disponível e leis que protejam melhor a propriedade intelectual”, afirmou Krieger.
As recomendações incluem o desenvolvimento de políticas para remoção de barreiras à inovação e provisão de uma infra-estrutura para fomentá-la. Indica também iniciativas para facilitar e proteger inovações no mundo em desenvolvimento por meio do financiamento global de instituições.
“O documento tem a missão de apontar a importância de um equilíbrio entre a propriedade intelectual – que todos precisam respeitar – e a transferência de conhecimento para os países emergentes. É uma mensagem clara da comunidade científica internacional para o G8”, destacou Krieger.
O documento entregue ao G8 pode ser lido no site da
ABC.
(Por Fábio de Castro,
Agência FAPESP, 21/05/2007)