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emissões de gases-estufa G8 pesquisas científicas
2007-05-22
Ações concretas e urgentes de proteção climática, aumento da eficiência energética e ênfase na promoção da inovação tecnológica. Essas são as principais recomendações feitas por representantes de 13 academias de ciências para o Grupo dos Oito (G8), que reúne os países mais industrializados e economicamente desenvolvidos do mundo mais a Rússia. As academias dos países que compõem o G8 (Reino Unido, Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Japão, Canadá e Rússia) e dos cinco maiores países em desenvolvimento (Brasil, África do Sul, México, Índia e China) foram convidadas pelo próprio G8, pelo terceiro ano consecutivo, a elaborar orientações para a cúpula que será realizada de 6 a 8 de junho.

O documento foi entregue na última quarta-feira (16/5) em Berlim, por representantes das academias de ciências, à primeira-ministra alemã, Angela Merkel. Ela ocupa este ano a presidência do G8. A Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi representada na reunião pelo médico Eduardo Moacyr Krieger, que presidiu a instituição por 14 anos, até o início de maio.

De acordo com Krieger, pela primeira vez os cientistas foram recebidos pessoalmente por uma chefe de Estado do G8 para a entrega das recomendações. “Isso mostra que, com a dramaticidade do problema ambiental revelada nos últimos relatórios sobre o aquecimento global, há uma compreensão maior de que não é possível discutir os rumos dos países sem subsídios científicos”, disse à Agência FAPESP.

A Alemanha, ao contrário de países como Estados Unidos e Canadá – que resistem à adoção de metas para redução de emissões de carbono –, apresentará na cúpula um comunicado contundente a respeito da necessidade de adotar medidas para manter o aumento médio das temperaturas em um máximo de 2oC até o fim do século. “O assunto do clima é recorrente nas reuniões do G8. A novidade da nossa recomendação é que juntamos dois temas: clima e energia. Destacamos que as mudanças climáticas estão ocorrendo em grande parte por causa da matriz energética que usamos”, afirmou Krieger, que também é diretor da Unidade Clínica de Hipertensão Arterial no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Eficiência energética
O documento sugere uma mudança de padrões de eficiência energética em edificações, aparelhos, motores, sistemas de transporte e no próprio setor energético. Propõe também uma mudança de matriz de consumo, com a criação de novas fontes de energias renováveis e o fortalecimento do intercâmbio econômico e tecnológico com os países em desenvolvimento. “Isso é importante porque os países em desenvolvimento aumentarão seu consumo per capita de energia. Recomendamos que eles já se desenvolvam dentro dos novos paradigmas, com uma matriz mais limpa e energeticamente menos dispendiosa”, destacou Krieger.

Durante a reunião, o pesquisador falou em nome das academias dos países em desenvolvimento e ressaltou a necessidade de privilegiar competências endógenas para aplicar as novas formas de energias. “O Brasil, por exemplo, tem na biomassa e no etanol uma competência tradicional que precisa ser aproveitada, tanto para mudar a matriz energética mundial como para alavancar o desenvolvimento local”, disse.

Os cientistas recomendaram ainda que o G8 invista fortemente em ciência e tecnologia relacionadas à eficiência energética, a recursos energéticos sem emissão de CO2 e a tecnologias de remoção de carbono. Outra sugestão é que todos os países definam e implementem medidas para reduzir o desmatamento global.

“Uma das contribuições brasileiras ao documento teve como base um estudo realizado no Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais]. Ele indica que uma redução de 50% no desmatamento de florestas tropicais até 2050 eliminaria carbono suficiente para atingir 10% da meta para estabilização do aquecimento global. A primeira-ministra alemã reagiu bem a essa idéia”, disse o representante da ABC. O governo alemão deseja que a cúpula aceite diminuir, até 2050, as emissões de carbono para um nível 50% menor do que os de 1990 e que promova um sistema de comércio de cotas de carbono como instrumento para elevar o preço das emissões e, com isso, incentivar a criação e adoção de tecnologias limpas.

O Desafio da inovação
Além do documento sobre clima e energia, os cientistas encaminharam ao G8 recomendações para a promoção e proteção da inovação. De acordo com Krieger, a questão da inovação tem uma grande importância, principalmente para os países em desenvolvimento. “Ela é nosso calcanhar-de-aquiles. Fizemos grande esforço para criar nossa competência científica, mas estamos apanhando um pouco para transformar esse conhecimento em desenvolvimento”, disse.

Os cientistas sugerem que o G8 trabalhe com países em desenvolvimento para construir um sistema de ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento econômico e social e também para promover a educação e o treinamento de seus futuros líderes, particularmente na ciência, na engenharia, na tecnologia e na área médica. “Outro ponto importante do documento é a proteção da inovação. A inovação cabe ao setor produtivo. Para que a indústria faça pesquisa, no entanto, é preciso ter capital de risco disponível e leis que protejam melhor a propriedade intelectual”, afirmou Krieger.

As recomendações incluem o desenvolvimento de políticas para remoção de barreiras à inovação e provisão de uma infra-estrutura para fomentá-la. Indica também iniciativas para facilitar e proteger inovações no mundo em desenvolvimento por meio do financiamento global de instituições.

“O documento tem a missão de apontar a importância de um equilíbrio entre a propriedade intelectual – que todos precisam respeitar – e a transferência de conhecimento para os países emergentes. É uma mensagem clara da comunidade científica internacional para o G8”, destacou Krieger.

O documento entregue ao G8 pode ser lido no site da ABC.

(Por Fábio de Castro, Agência FAPESP, 21/05/2007)

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