As emissões mundiais de dióxido de carbono, o principal dos chamados gases do efeito estufa, aumentaram três vezes mais rápido desde 2000 do que na década de 1990, o que representa a hipótese mais drástica dentre os cenários estudados por uma comissão climática internacional, disseram cientistas na segunda-feira (21). Ao mesmo tempo, a tendência de redução na intensidade energética da Terra - a quantidade de energia necessária para cada unidade do PIB - parece ter parado ou mesmo sido revertida nos últimos anos, segundo os pesquisadores.
"Este documento deveria ser um grito de alerta", disse Chris Field, co-autor do estudo publicado na revista PNAS - Proceedings of the National Academy os Sciences. Field, do Departamento de Ecologia Global do Instituto Carnegie, na Califórnia, disse que o estudo concluiu que, entre 2000 e 2004, as emissões mundiais de dióxido de carbono aumentaram 3,1% ao ano, cerca do triplo da taxa de 1,1% na década de 1990.
Além da intensidade energética, a aceleração se deve também a um aumento no carbono necessário para produzir a energia usada. Outros fatores incluem o crescimento da população mundial e da renda per capita, segundo o estudo. Grande parte da aceleração provém da China, onde um forte crescimento econômico é alimentado em grande parte por energia a carvão.
Os países em desenvolvimento, como Índia e China, e alguns dos países menos desenvolvidos responderam por cerca de 73% no crescimento global das emissões em 2004 e contêm cerca de 80% da população mundial, disse o estudo. Por outro lado, o estudo informou que os países mais ricos contribuíram com cerca de 60% das emissões totais em 2004 e respondem por 77% das emissões acumuladas desde o início da Revolução Industrial.
A pesquisa mostrou que as emissões globais desde 2000 cresceram mais rapidamente que nos cenários mais extremos previstos pelo Painel Intergovernamental da ONU sobre a Mudança Climática, o IPCC. Essa comissão disse que as emissões globais de CO2 devem cair entre 50%-85% até 2050 para evitar que a Terra se aqueça mais que 3,6º C. Temperaturas acima disso podem provocar mais inundações, secas e ondas de calor.
O governo Bush noticiou recentes reduções na "intensidade de carbono" do país e estabeleceu como meta reduzir em 18% esse número nos próximos dez anos, objetivo que Field considera "muito modesto". "Historicamente desde 1980, sem fazer nada, a intensidade de carbono da economia dos EUA caiu cerca de 1,5% ao ano, então quando falam em uma meta de 1,8% ao ano não é uma grande mudança em relação a agora", afirmou ele, por telefone.
Outro autor do estudo, Gregg Marland, do Laboratório Nacional de Oak Ridge, no Tennessee, disse que parte da redução da intensidade de carbono dos EUA se deve à transferência de muitas fábricas de altas emissões para países como a China, que vendem produtos feitos dessa forma para os EUA. Encaixar tudo isso seria difícil, segundo Marland. "Isso está no centro de como vivemos. Só estamos usando mais energia e sendo mais consumistas. Colocar todo mundo em carros híbridos não vai resolver isso."
(Reuters/ Estadão Online, 22/05/2007)