A usina hidrelétrica de Itaipu foi concluída nesta segunda-feira (21/05)com a inauguração das duas últimas turbinas. Vinte e três anos depois de ter começado a gerar energia, a gigante binacional tenta reciclar a imagem de causadora de danos ambientais com um programa de revitalização que deve ser replicado em outros projetos do governo.
Além disso, a usina entra num processo de modernização de 350 milhões de dólares pelos próximos 10 a 12 anos. Itaipu trabalha na melhoria dos sistemas das turbinas, passando o controle de comando de eletrônico para digital.
A usina custou no total 18,2 bilhões de dólares aos governos do Brasil e do Paraguai. A dívida hoje chega a 20,8 bilhões de dólares, e será quitada apenas em 2023.
Cercada de grande polêmica na época da sua construção, Itaipu é a maior usina em operação no mundo, com 14 mil megawatts gerados por 20 turbinas, e só deverá ser superada pela usina de Três Gargantas, na China, que a partir de 2009 irá gerar 18 mil megawatts.
No discurso de inauguração das turbinas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi aplaudido quando pediu aos presentes que tentassem imaginar o Brasil sem a usina. Itaipu responde por 22 por cento da energia consumida no país, a maior parte destinada para as regiões Sudeste e Sul.
Instalada na fronteira do Brasil com o Paraguai, a usina vem intensificando nos últimos anos a busca pela redução do impacto ambiental causado desde o início da sua obra, que fez sumir um dos maiores pontos turísticos do país, o Salto das Sete Quedas, desalojou 40 mil pessoas e motivou uma grande operação de retirada de centenas de espécies de animais e plantas da região.
Em Itaipu, o presidente Lula reconheceu que, décadas atrás, as exigências da sociedade quanto ao impacto ambiental de empreendimentos de grande porte eram mais brandas.
"Hoje não é tão fácil construir uma hidrelétrica como construímos Itaipu nos anos 70. Hoje a legislação é mais dura, os ambientalistas estão mais exigentes, fiscalizando mais, exigindo cada vez mais", afirmou o presidente, referindo-se ao desafio de obter licenças ambientais para a construção de usinas no rio Madeira, em Rondônia. As usinas são consideradas cruciais para assegurar o abastecimento de energia no país a médio prazo.
BROMÉLIA CONGELADALula esteve no sábado com o diretor de Coordenação e Meio Ambiente de Itaipu, Nelton Friedrich, para avaliar programas que a empresa está desenvolvendo na frente ambiental e que podem ser replicados no rio Madeira.
"Um dos motivos da vinda dele (Lula) foi justamente confirmar a possibilidade de se fazer um projeto desse, como Itaipu, preservando-se o máximo possível o meio ambiente", afirmou o executivo, que se prepara para plantar em junho uma bromélia retirada da usina em 1984 e congelada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
"Não há como deixar de ter impacto ambiental, mas você hoje em dia tem como mitigar esse impacto, e é isso que estamos fazendo", disse Friedrich à Reuters.
"O impacto maior se dá na época de instalação, depois existem maneiras de ir se tentando reduzir isso, como estamos fazendo aqui", complementou o executivo, que tem participado das reuniões do governo para a construção de usinas no rio Madeira.
Como exemplo da tentativa de diminuir os danos causados por Itaipu, Friedrich aponta o plantio de mais de 42 milhões de árvores do lado brasileiro do projeto, os trabalhos na área de preservação do solo, as iniciativas para o reaproveitamento dos quase 30 bilhões de metros cúbicos de água contidos no reservatório da empresa, o suficiente para abastecer o mundo inteiro por 15 dias, segundo o executivo.
Outro projeto é a utilização do reservatório para pesca, que vai garantir cerca de 9 mil toneladas anuais de peixe por ano, num programa atrelado à merenda escolar.
Segundo ele, na época da inundação de Itaipu, foram encontradas 127 espécies de peixes e hoje esse número subiu para 180. No rio Madeira, segundo outro executivo da companhia, o veterinário Domingo Fernandez, que também participa das reuniões das novas usinas, já houve levantamento de 453 espécies no último ano, e espera-se chegar a 600 espécies.
(Por Denise Luna,
Reuters, 21/05/2007)