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impactos mudança climática br extinção de espécies
2007-05-22

A mudança climática está acelerando a extinção em cascata de espécies, temem alguns especialistas, que pedem urgência na adoção de medidas. Insetos, aves e outros animais, e inclusive alguns vegetais vão mudando de território tentando escapar de novas condições climáticas locais, cada vez mais inóspitas. Para algumas espécies, como os ursos polares ou as que habitam zonas alpinas, não há para onde ir. E muitas outras, como as plantas, carecem de mobilidade para enfrentar a mudança do clima. “Já estamos vendo espécies que se trasladam, mas não o suficientemente rápido para evitar sua potencial extinção”, disse Jeremy Kerr, ecologista da Universidade de Ottawa.

“Os prognósticos, realmente terríveis, de uma extinção rápida e maciça parecem ser verdadeiros, segundo as primeiras evidências”, disse Kerr à IPS. Uma dessas previsões surgiu no ano passado com a Avaliação de Ecossistemas do Milênio, um esforço internacional de pesquisa que consumiu quatro anos. O documento adverte que até 30% de todas as espécies sobre a Terra podem desaparecer até 2050 devido a atividades humanas insustentáveis.

Até 2100, o planeta será completamente diferente se as emissões de gases causadores do efeito estufa continuarem aumentando no ritmo atual. Quase 40% da superfície continental experimentarão climas novos, sobretudo nos trópicos e em latitudes próximas, enquanto as temperaturas mais elevadas se espalharão pelos pólos, segundo um novo estudo divulgado este mês na publicação norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences. “Veremos climas completamente fora do espectro da experiência humana moderna”, afirmou Stephen Jackson, da Universidad de Wyoming (EUA), em uma declaração escrita. Os cientistas calculam que há entre três e 30 milhões de espécies de plantas, animais, fungos e bactérias, entre outros, mas até agora só foram identificados 1,4 milhão. A importância das espécies não é bem compreendida pelo público em geral, nem por empresários ou políticos. Mas é precisamente a diversidade biológica (a soma de todas as espécies viventes) que nos proporciona ar para respirar, água para beber e alimentos para comer.

Os estudantes aprendem que as árvores e plantas produzem oxigênio e absorvem água limpa e dióxido de carbono, o principal gás causador do efeito estufa. Mas o que não se compreende bem, inclusive por parte dos cientistas, é como os insetos, as bactérias, os pássaros e outros animais interagem com árvores e plantas para produzir esses serviços ecológicos dos quais tanto dependemos. A perda de uma das poucas espécies em uma floresta ou nos oceanos poderia não resultar em nenhuma mudança imediata óbvia, mas os cientistas começam a ligar os pontos.

Um exemplo de uma cascata de impactos foi documentado por cientistas oceanógrafos canadenses e norte-americanos, quando descobriram que uma drástica redução das populações de tubarões ao longo da costa leste dos Estados Unidos teve como resultado um auge de arraias que, por sua vez, dizimaram os mariscos, dos quais se alimentam. Essa perda de mariscos reduziu a qualidade da água e as camadas de vegetação marinha. O efeito dominó não pára por aí, mas é o ponto até onde a ciência pôde rastreá-lo. Michael Totten, diretor da organização Conservação Internacional, deu outro exemplo.

As florestas de mangues costeiros dão às comunidades locais 90% da proteção contra as tempestades, segundo os estudos. Igualmente importante é o fato de os mangues serem celeiros de muitas espécies de peixes e terem um papel-chave na manutenção da pesca oceânica, afirmou Totten em uma entrevista. Quanto mais espécies houver em um ecossistema, mais reticente a mudanças este se mostra. Assim, a combinação de reduzidas quantidades de espécies e mudança climática está colocando o mundo no caminho de um colapso de seus ecossistemas, advertiu.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, divulgou uma mensagem semelhante por ocasião do Dia Internacional da Diversidade Biológica, que é comemorado todo dia 22 de maio, dizendo que “a biodiversidade está sendo perdida em um ritmo sem precedentes e isto está corroendo seriamente a capacidade de nosso planeta de manter a vida sobre a terra”. “A menos que façamos algo não nos restarão tigres, leões ou ursos em seu habitat natural para meus netos”, disse Stuar Pimm, ecologista da Universidade de Duke, no Estado norte-americana da Carolina do Norte. “Os impactos serão óbvios, inclusive para as crianças menores, e isto é uma possibilidade muito real”, afirmou Pimm à IPS. Evitar este sombrio futuro é todo um desafio, mas longe de ser impossível. Por freio ao desmatamento é um passo crítico, já que está representa mais de 20% das emissões globais de gases que causam o efeito estufa.

Embora o desmatamento tropical receba quase toda a atenção, os 567 milhões de hectars de floresta boreal do Canadá poderiam desaparecer em uma geração, acrescentou Pimm. Na semana passada, este especialista, junto com outros 1.500 cientistas, pediu urgência ao Canadá na proteção de pelo menos metade de suas florestas, e que administre o restante de um modo mais cuidadoso. A boreal não é somente “a floresta intacta e o ecossistema de mangues maior que resta na Terra”. Também é a maior reserva de carbono terrestre no mundo, afirmaram em uma carta aberta.

Apesar de seu enorme tamanho, 10% da floresta já foram desmatados ao longo de seu extremo meridional, onde a biodiversidade é mais rica, disseram os cientistas. O segundo passo fácil” para combater a mudança climática e estimular a biodiversidade é o reflorestamento de áreas tropicais já desmatadas, disse Pimm. Sete milhões de quilômetros quadrados de florestas tropicais desapareceram nos últimos 50 anos. Cerca de dois milhões são usados para cultivos, enquanto os cinco milhões de quilômetros quadrados restantes são terras de má qualidade, com pouco gado e cabra, explicou.

Reconverter estas terras improdutivas em floresta nativa poderia ajudar a capturar cerca de cinco bilhões de toneladas de carbono da atmosfera a cada ano, durante mais 10 ou 20 anos. O reflorestamento também é relativamente fácil de se realizar e tem enormes benefícios para a biodiversidade. As emissões globais anuais de dióxido de carbono chegam atualmente a oito bilhões de toneladas. Estas medidas “poderiam nos levar por um longo caminho rumo à neutralização do carbono”, isto é, para atividades capazes de absorver as emissões inevitáveis deste gás, afirmou Pimm. “As coisas estão começando a mudar. O mundo finalmente recebeu a mensagem sobre a mudança climática, exceto a Casa Branca”, ressaltou. Apesar de responder pela quarta parte de todas as emissões de gases causadores do efeito estufa, os Estados Unidos se negaram a ratificar o Protocolo de Kyoto, alegando que a implementação desse tratado – que obriga os países industriais a reduzir suas emissões – é muito cara.
(Por Stephen Leahy, IPS, 21/05/2007)


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