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Sierra Gorda riscos climáticos
2007-05-22

A Reserva da Biosfera de Sierra Gorda, a de maior diversidade biológica do México, milhares de árvores agonizam por causa do ataque de pragas contra as quais não há armas viáveis. A escassez de chuva é a culpada. O caruncho descascador (Dentroctonus adjuntus), o visgo (Viscum album) e a broca atacam duramente as florestas de Sierra Gorda, uma região de montes, colinas e cânions de caprichosas formas, que se estende entre 350 e 3,1 mil metros acima do nível do mar, no Estado de Querétaro, centro-oeste do país.

Alguns dos 50 mil habitantes da reserva, de 384 mil hectares e a cerca de sete horas de automóvel da capital, acreditam que as pragas chegaram por vontade divina. Outros dizem que simplesmente “o clima ficou louco”. Segundo autoridades e especialistas, o ataque que acontece há cinco anos tem a ver com alterações no regime de chuvas em razão da mudança climática. O fenômeno ameaça seriamente toda a região, protegida pelo governo mexicano, que em 1997 a declarou reserva de biosfera, e pela organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que em 2001 a proclamou Reserva da Biosfera Mundial.

A camponesa Esther Martinez, de Epazotes Grandes, uma das 600 comunidades da reserva, a maioria com não mais de 500 habitantes, vê o problema com a sabedoria de quem sempre viveu no campo. “As florestas estão fracas e por isso o caruncho é mais forte. Isto acontece porque as chuvas diminuíram e agora tudo está mais seco”, afirma a mulher enquanto cava em volta de uma área comunitária de acentuada inclinação para evitar que as chuvas arrastem os nutrientes do solo. Por outro lado, Patricia Balderas, do povoado de Tilazo, acredita que as árvores morrem por “desígnio de Deus”.

Não há dados exatos de quantos carvalhos (Quercus), zimbros (Juniprus) e pinus (Pinus), que cobrem 35% das superfície florestal, estão comprometidos. Mesmo o visitante pode perceber manchas amareladas no meio da floresta quando chega pelos serpenteantes caminhos de entrada na Reserva. “Há um grande dano, é um problema crescente. Já é parte do cenário e não podemos controlá-lo”, lamenta Victor Ildefonso, subdiretor da Reserva. No passado, as pragas surgiam durante as secas, mas, com o inverno, desapareciam. “Agora elas aparecem o ano todo e em todas as partes, aí vemos a relação com a mudança climática”, disse o funcionário ao Terramérica.

Os registros meteorológicos indicam que as secas e o calor aumentam progressivamente e há menos chuvas a cada ano, afirmou, em abril, o então delegado em Querétaro do Ministério de Meio Ambiente do México, Enrique Urribarren. A mudança climática é uma realidade palpável em Querétaro, e as previsões para os próximos 13 anos indicam que as precipitações na região central do país diminuam entre 5% e 10%, acrescentou Urribarren em declarações ao jornal El Universal. “Este caso de pragas é claramente um efeito da mudança climática, até as pessoas daqui dizem disso: com menos chuvas as florestas enfraqueceram”, disse ao Terramérica Martha Ruiz, diretora da Reserva. “Não sabemos o que fazer”, acrescentou.

Este tipo de problema causado pela mudança climática na fauna e na flora são o tema central do Dia Internacional para a Diversidade Biológica, que será comemorado nesta terça-feira, dia 22. Enquanto isso, as únicas alternativas contra as pragas em Sierra Gorda são podar as árvores, queimá-las ou usar pesticidas. O primeiro método é impraticável pelo grande número de exemplares envolvidos, cerca de 400 por hectare, os outros dois foram descartados pelas conseqüências contaminantes.

Para encontrar soluções, as autoridades da Reserva da Biosfera Sierra Gorda realizarão em agosto uma reunião internacional de especialistas em sua sede, a cidade de Jalpan de Serra, de 25 mil habitantes. Representantes do Serviço Florestal dos Estados Unidos estarão entre os principais participantes. No momento, o caruncho descascador segue avançando. Constrói pequenas câmaras que chegam até os lugares onde circula a seiva das árvores, sobretudo de pinus. Assim, cortam a circulação de nutrientes, fazendo a árvore secar e, por fim, morrer. O visgo, outro inimigo, é um tipo de parasita vegetal que adere às árvores, especialmente carvalhos e zimbros, até destruí-las.

A broca, por outro lado, consome as sementes do pinheiro italiano (Pinus pinea, L.), afetando sua reprodução. Os cinco mil hectares existentes desta espécie na Reserva foram atingidos. Não só as árvores serão destruídas, pois haverá conseqüências diretas sobre a rica fauna de Sierra Gorda, que perderá parte de seu hábitat e menos volume de captação de água dos solos.

Na Reserva, onde 30% do território é propriedade comunitária e o restante de particulares, habitam 360 espécies de aves, 130 de mamíferos, 72 de répteis 23 de anfíbios, além de dezenas de outras ainda não estudadas. A riqueza de fauna e flora é tamanha que em Sierra Gorda há, por exemplo, mais espécies de borboletas do que nos Estados Unidos e no Canadá juntos. Por isso é catalogada como a reserva de maior biodiversidade do México. Ali confluem vegetações de semideserto, floresta de neblina, floresta temperada e floresta baixa, em uma topografia com profundas cavernas.

Até a década de 80, a pecuária, a agricultura e a exploração de madeira estiveram fora do controle na região, uma situação que começou a mudar quando, em 1989, moradores locais formaram o não-governamental Grupo Ecológico Sierra Gorda. Essa organização, que tem entre suas fundadoras a atual diretora Ruiz, criou programas de educação ambiental, reflorestamento, proteção e regeneração da cobertura vegetal, de melhoria comunitária e manejo de resíduos sólidos.

Esses esforços foram coroados com a declaração de Reserva e a chegada de apoios internacionais, entre eles um do Fundo para o Meio Ambiente Mundial que, por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, deu US$ 6,5 milhões entre 2001 e este ano. Graças à combinação de esforços públicos, não-governamentais e agências internacionais, a fauna e a flora de Sierra Gorda começaram a se recuperar. Mas o ataque das pragas coloca em risco grande parte do que foi conquistado.
(Por Diego Cevallos, Terramérica, 21/05/2007)


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