A polêmica sobre a localização do Centro Geodésico da América do Sul, ponto central do continente, voltou a ser discutida esta semana na Capital do Mator Grosso. O título é disputado por Cuiabá e Chapada dos Guimarães e utilizado pelas duas cidades para atrair turistas. O vereador Lutero Ponce encaminhou um ofício ao prefeito de Chapada, Gilberto de Mello, para que sejam retiradas as placas que identificam o ponto na cidade e ameaçou até procurar o Judiciário para resolver o impasse.
“Quem colocou as indicações foi o Ministério do Turismo e não a prefeitura. Se ele quer que seja feita a substituição, nós podemos colocar placas indicando o local como sendo o mirante do centro geodésico. Não queremos contrariar a história e nem mexer nas raízes”, disse Mello. Contudo, ele ressaltou que após a publicação de uma reportagem pelo Diário sobre o assunto, resolveu fazer a medição científica com GPS.
“Na realidade o verdadeiro marco geodésico fica na Caverna do Francês, quase na divisa de Chapada dos Guimarães com Campo Verde.
Para medir isso, levamos técnicos conosco”, argumentou ele. Em Chapada dos Gruimarães o ponto está localizado em um trecho da rodovia Emanuel Pinheiro e passou a ser explorado como diferencial turístico na década de 70 por indicação do arquiteto Lúcio Costa, que ajudou a projetar Brasília.
Já para os cuiabanos, ele está em frente a atual Câmara dos Vereadores, no antigo Campo D´Ourique. O Centro Geodésico em Cuiabá teria sido determinado por Marechal Rondon em 1909. Desde então, nenhuma nova medição teria sido realizada, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O ponto foi reconhecido pelo Exército Brasileiro.
O cartógrafo e geógrafo Aníbal Alencastro descarta a possibilidade do Centro Geodésico estar localizado fora de Cuiabá. Ele é um dos defensores convictos de que em Chapada o equívoco surgiu com a definição, na década de 40, de uma referência de nível (RN), que serve para delimitações topográficas, no mirante. “É um oportunismo. O marco em Chapada não tem nada a ver com o Centro Geodésico”, concluiu ele.
“Eu fico incomodado com a situação. O Centro Geodésico é um ponto importantíssimo. Se o prefeito de Chapada não acatar a orientação, nós entraremos na Justiça”, declarou Lutero. Para sua decepção, nenhum dos dois locais detém o título oficialmente e não haveria motivos para se empreender esforços para a definição do ponto, já que não há finalidade prática nenhuma na empreitada, conforme o IBGE.
A coordenadora da diretoria de Geociências do órgão do Rio de Janeiro, Sônia Maria Alves Costa, declarou, em outra entrevista concedida ao Diário, que o IBGE, responsável pela oficialização dos estudos cartográficos, não reconhece as análises de Rondon.
Ela acrescentou que, oficialmente, o Centro Geodésico não foi determinado no Brasil. A Secretaria de Estado de Cultura defende que a localização fica na Capital, mas estudiosos afirmam que para acabar com a incógnita seria necessária uma nova medição técnica.
(Por Keity Roma,
Diário de Cuiabá, 21/05/2007)