O documentário The great global warming swindle (A grande fraude do aquecimento global, em tradução livre), da rede de TV britânica Channel 4, assegura que o "o discurso acerca do fenômeno tornou-se moral". Essa seria uma das provas da pouca verdade científica presente em relatórios como os divulgados pelo Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC). - Faz parte da agenda política e é uma forma para conseguir financiamentos. O governo americano gasta US$ 2 bilhões em pesquisas climáticas anualmente - revela Tim Ball, fundador e presidente da ONG Natural Resources Stewardship Project.
James Shikwati, diretor da Rede Econômica Interegional (Iren), acredita em um complô das nações ricas. Os países do primeiro mundo estariam tentando evitar o desenvolvimento da América Latina e da África ao obrigá-las a adotar tecnologias limpas e caras para a geração de energia. - É uma afirmação sem sentido - garante Claudia Kemfert, pesquisadora da Universidade de Humboldt, na Alemanha. - O Brasil, por exemplo, pode se beneficiar economicamente ao exportar etanol para o mercado mundial e desenvolver novas tecnologias. Para a cientista, a tentativa de mascarar a gravidade do aquecimento global é que soa como complô contra os mais pobres. Especialmente porque a segunda parte do relatório do IPCC assegura que as áreas do mundo mais afetadas serão os países em desenvolvimento.
Entre as graves mudanças previstas pelo comitê da ONU estão a mudança nos padrões de chuva, secas prolongadas, derretimento das geleiras e aumento do nível do mar. Até 3,2 bilhões de pessoas sofreriam com uma escassez severa de água e outras 600 milhões passariam fome. Emílio La Rovere, professor da Coppe-UFRJ e colaborador da terceira parte do relatório do IPCC, pondera que há uma grande preocupação em expressar o grau de certeza ou incerteza das assertivas científicas no documento. - A análise é crítica e há espaço para discussão de opiniões divergentes - diz.
Para Luis Piva, do Greenpeace Brasil, é importante esclarecer que o IPCC não faz "ciência em si", mas revisa diversos estudos independentes e recomenda políticas relevantes sobre o clima para quem toma as decisões. - Ao contrário do que o documentário coloca, avaliamos que o IPCC foi mesmo conservador em suas conclusões - sugere. Ball provoca e diz que costumava brincar com a possibilidade de se achar uma conexão entre a Aids e o aquecimento global para assegurar o fluxo de dinheiro, mas "não é mais divertido". - O aquecimento global é um problema real que precisamos enfrentar e não ignorar - observa Claudia.
(Por Juliana Anselmo da Rocha, JB, 20/05/2007)