Em um momento em que o aquecimento global desperta o interesse pela energia nuclear, o aumento da demanda por urânio está levando mineradoras a comprar terras rapidamente para explorar novas reservas na América do Sul. Após várias décadas com escasso interesse na extração do metal radioativo, os preços na produção subiram nos últimos anos para mais de US$ 220 por quilo, fazendo com que as mineradoras fossem cada vez mais longe atrás desse metal denso, usado para abastecer a maioria dos reatores nucleares do mundo.
"Há dois anos e meio havia talvez quatro empresas que diziam estar no setor de urânio. Na feira seguinte do setor, havia 40, e agora todo mundo está no urânio", disse Glenn Shand, da Wealth Minerals, de Vancouver, que está atuando na Argentina e no Peru. Dezenas de pequenas mineradoras estão se estabelecendo em países como Peru, Argentina, Bolívia e Colômbia, e analistas dizem que a produção comercial é viável já nos próximos anos.
"Há uma possibilidade de que um novo depósito seja colocado em funcionamento na América do Sul, mas é claro que há fatores do momento e o quanto de resistência ambiental haverá", disse Nick Carter, da consultoria UxC, acrescentando que depósitos rasos, de baixo custo, podem ser viáveis mesmo com uma queda nos preços. Porém ele disse que muitas mineradoras podem estar comprando propriedades onde há reservas estabelecidas de urânio a fim de aumentar o preço das suas ações, depois que neste mês o preço do urânio na produção atingiu seu maior nível desde a década de 1970. "Provavelmente só há um punhado de pequenas mineradoras que podem realmente fazer alguma coisa", disse ele.
A Argentina parou de explorar urânio na década de 1990, e o Brasil é atualmente o único produtor da região. A estatal Indústrias Nucleares do Brasil diz que o País tem uma das maiores reservas estimadas deste metal no mundo, mas que sua exploração é monopólio estatal e o produto não é exportado. Os maiores e mais estabelecidos produtores mundiais são Canadá e Austrália, mas a produção africana de urânio deve triplicar até 2011, com a expansão de minas existentes e o início da operação de novas. Nas últimas duas décadas, a produção de urânio se esgotou, e a demanda global foi suprida com estoques feitos por governos antes do final da Guerra Fria.
Mas os estoques estão encolhendo, enquanto a demanda cresce, em parte porque a energia nuclear voltou a se popularizar como alternativa aos combustíveis fósseis, que emitem gases do efeito estufa. Isso faz da América do Sul uma possibilidade atraente. Junto com China e Índia, a Argentina é um dos países que atualmente constroem novas usinas nucleares. O Brasil deve ampliar seu programa nuclear, e o Chile, pobre em energia, também cogita a energia atômica.
(Reuters, 18/05/2007)