Em entrevista ao Jornal JÁ, secretário de Gestão e Acompanhamento Estratégico, Clóvis Magalhães, fala sobre as críticas que o projeto Portais da Cidade vem recebendo. Considerado homem forte do governo Fogaça e principal idealizador do projeto, ele garante que as manifestações da comunidade serão consideradas, mas questiona a filiação partidária dos críticos. Com experiência em transporte urbano, o engenheiro civil diz que o conceito do projeto está consolidado, mas pode haver alterações.
JÁ - O projeto Portais da Cidade vem sendo criticado por associações de bairro, principalmente, da Cidade Baixa e Azenha, que não querem mais concentração de ônibus nesses bairros. Como a Prefeitura recebe essas posições e como vai tratá-las?
Clóvis Magalhães - Em primeiro lugar, temos que respeitar as manifestações democráticas feitas por aqueles que se sentem atingidos e, ao longo desse processo, vamos discutir com essas entidades, e com as demais, toda a viabilização do projeto. Por outro lado, nesse jogo de interesses, que são legítimos, também há um conjunto de interesses que se colocam em oposição por um viés partidário. Se nós observarmos os movimentos que se expressaram, curiosamente, boa parte tem articulação em oposição. O centro de Porto Alegre vive uma situação insustentável, está tomado por terminais de ônibus, crescente poluição e insegurança.
A Prefeitura precisa intervir. O projeto estabelece uma racionalidade no tempo de viagem para os usuários, portanto não estou falando em cinco ou seis ou oito mil pessoas, e sim em 1 milhão e 200 mil pessoas, que acabam nas filas dos corredores. E também, não é mais admissível conviver com a expulsão habitacional na avenida Salgado Filho, já não é possível acessar os prédios e as atividades comerciais estão obstruídas.
Por um período, a solução dos corredores foi boa, mas se esgotou. Agora é necessário fazer uma intervenção urbana que qualifique esse sistema e melhore Porto Alegre como um todo, não é a população de um bairro ou de determinada entidade. O bairro tem que ser respeitado, as manifestações têm que ser dialogadas, mas esse projeto tem uma visão global para a cidade e visa melhorar a equação de mobilidade no centro da cidade.
JÁ - Muitas associações questionam porque o projeto Portais da Cidade não está em discussão na revisão do Plano Diretor?
Magalhães - Porque são duas questões, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano trabalha com aspectos de regulação do espaço, entrando na área da construção e sistema viário. Existe um plano diretor setorial de transporte e circulação, elaborado em 2002/2003, que trata especificamente do tema e foi discutido com a comunidade. Esse plano trabalha com mobilidade e, ao propor o Portais da Cidade, estamos fazendo uma evolução da proposição inicial do plano setorial de transporte.
JÁ - O prazo para manifestação de interesse foi prorrogado. Há interessados, quantas manifestações foram recebidas?
Magalhães - Sim, existem interessados, mas creio que a formalização se dará nas últimas horas do dia 29 de maio. Recebemos três manifestações solicitando a prorrogação, uma até mencionava grupos brasileiros e estrangeiros. Nossa interpretação é que, como lançamos o edital em janeiro, pegamos uma época de atividade econômica reduzida. Hoje há capital para investimentos, mas poucos projetos.
Por isso, acho que temos uma boa oportunidade porque temos um bom projeto. Mas há ainda passos importantes para serem construídos. Vamos ter que saber entender com mais profundidade qual é a demanda, por exemplo, das religiões afros e toda a cumplicidade que o Largo Zumbi dos Palmares traduz. Vamos dialogar e buscar soluções, sem impedir que a cidade realize um projeto estruturador.
JÁ - O projeto está fechado, acabado?
Magalhães - Do ponto de vista do seu modelo de transporte, das necessidades e busca de uma matriz energética mais sustentável, os conceitos já estão consolidados. Vamos aprofundar isso, na perspectiva de realizá-lo desta forma, mas não existem impedimentos para alterações e adequações.
(Jornal JÁ, 18/05/2007)