Semanas após ingredientes estragados de ração de animais chinesas terem matado e adoecido milhares de cães e gatos nos Estados Unidos, o país enfrenta crescente pressão internacional para provar que suas exportações alimentícias são seguras. Mas por trás da superfície existe um problema espinhoso para autoridades chinesas: como podem assegurar ao mundo que "feito na China" significa bem feito?
Um dos maiores recalls de ração para animais na história americana aumentou os temores mundiais sobre a qualidade e segurança dos produtos agrícolas da China. E evidências mostraram que a China importou ingredientes alterados de medicamentos que poderiam minar a credibilidade de mais outra exportação bem sucedida.
"Esta não é uma crise internacional ainda, porém se não fizerem algo a respeito rapidamente, com certeza será", disse David Zweig, especialista sobre a China que leciona na Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong. "A questão é saber se espalhará e 'feito na China' fique conhecido como 'cuidado, compradores'".
Com a contaminação se espalhando para fornecimentos de carne e peixe, algumas das maiores empresas alimentícias da América, como a Kraft Foods, estão tentando convencer o governo americano a pressionar a China para melhorar suas medidas de segurança em relação aos alimentos. Seus executivos temem que outro susto envolvendo a China poderia impulsionar um retrocesso de consumidores e reverter uma tendência que observa grandes fabricantes de alimentos ficar cada vez mais dependentes de ingredientes processados de país em desenvolvimento.
Especialistas também afirmam que dúvidas sobre a qualidade das remessas de alimentos chineses e preocupações sobre seus medicamentos falsos poderiam afetar outras exportações se os compradores começarem a descobrir problemas de segurança ou outras falhas nos produtos. A freqüência de recalls nas importações chinesas aumentou bastante nos últimos anos, segundo a Comissão de Segurança para Produtos ao Consumidor.
O que está em jogo para a China são mais de US$30 bilhões em exportações agrícolas e farmacêuticas para a Ásia, Europa e América do Norte. Mesmo assim, poucos especialistas em comércio acreditam que o boom de exportações da China irá desacelerar. Carregamentos de vegetais e frutos do mar vêm crescendo nos últimos anos. E muitos importadores afirmam que preferem trabalhar com as empresas chinesas para aumentar os níveis de segurança do que mudar de fornecedores.
Porém muitos especialistas dizem que o real desafio se encontra na China - em assegurar que seus agressivos empresários estejam domados e que as inspeções possam melhor monitorar os conteúdos das exportações, agora avaliadas em mais de US$1 trilhão ao ano. Se não conseguirem, alguns analistas afirmam que poderia haver uma mudança nas atitudes dos consumidores em relação aos produtos "Made in China".
(Por David Barboza, The New York Times, 19/05/2007)