Enquanto um grupo de empresários, políticos e trabalhadores exigiam rapidez na liberação dos licenciamentos para o plantio de florestas, outro grupo, formado por camponeses do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), se mostraram contrários à implantação de novas áreas com eucaliptos no Estado.
Quatro mil pessoas do Movimento Plantando Desenvolvimento Sustentável, formado por trabalhadores, empresários, prefeitos e vereadores de cidades da Metade Sul, se concentraram em frente ao Palácio Piratini. Eles protestaram contra a demora do governo do Estado para a liberação do plantio de florestas no Rio Grande do Sul. O grupo pediu a definição imediata de uma política ambiental para a silvicultura. A idéia é trazer mais segurança para investimentos de setor de celulose e papel, que somam US$ 4 bilhões se contabilizados os projetos de Aracruz, Votorantim Celulose e Papel - VCP e Stora Enso. "Queremos a garantia dos nossos empregos. O setor não pode ser inviabilizando, levando 120 mil empregos embora", disse o presidente da Força Sindical do Rio Grande do Sul, Cláudio Janta.
O sócio-gerente da Tecnoplanta - empresa que fornece mudas florestais para a Aracruz -, Eudes Marchetti, ressaltou que o objetivo do protesto era mostrar que os investimentos do setor de celulose não são importantes apenas para as empresas, mas também para trabalhadores e prefeituras; "Neste ano, 20 mil hectares deixaram de ser plantados, provocando o descarte de 5 milhões de mudas e a perda de 3 mil empregos", acrescenta.
Os manifestantes foram recebidos ainda pela manhã pelo chefe da Casa Civil, Luiz Fernando Záchia. No encontro, eles defenderam a participação dos municípios na definição da política ambiental e a criação de novos programas de incentivo ao cultivo de árvores exóticas como eucalipto e pinus. Os trabalhadores também sugeriram a aplicação de critérios econômicos e sociais na elaboração da redação final do zoneamento da silvicultura. O documento vai estabelecer critérios definitivos para concessão de licenças ambientais para o plantio de florestas.
Záchia disse aos representantes do movimento que o governo estadual está "ciente da importância e necessidade das reivindicações para o desenvolvimento do setor". No entanto, alegou que as lideranças precisam dar tempo para que a nova diretoria da Fepam possa analisar criteriosamente as alterações propostas pelos manifestantes. "Logo serão apresentadas definições para o assunto", prometeu o chefe da Casa Civil.
Na reunião também ficou pré-agendada para o próximo dia 25 uma audiência do grupo com a governadora Yeda Crusius a fim de encaminhar uma solução para a questão. De acordo com Janta, a expectativa é de que o governo apresente uma proposta de plano ambiental já na próxima semana.
Produtores do MPA têm extensa pauta de reivindicações
Além de protestar contra a implantação de florestas no Estado, os cerca de 2 mil camponeses ligados ao MPA pediram a prorrogação da dívida dos pequenos produtores. "Queremos a aplicação do bônus de inadimplência, para que possamos liquidar nossas dívidas, com o pagamento de 10% do valor. Caso contrário solicitamos 30 anos para terminar de pagar", declarou o membro do MPA, Lecian Conrad. Segundo ele, os produtores pedem os mesmos benefícios concedidos aos grandes produtores.
Depois, os manifestantes seguiram para a frente do prédio da Fepam, onde realizaram um ato público em favor do zoneamento realizado pela entidade relativo às áreas para plantio de eucaliptos, manifestando-se contra a implantação da cultura em solo gaúcho. "Apoiamos totalmente a Fepam neste sentido e somos contra a forma como o governo do Estado tem respondido ao documento elaborado pela entidade".
Conrad adiantou ainda que, durante audiência realizada com o secretário da Agricultura, João Carlos Machado, foram solicitados esclarecimentos sobre as políticas do governo para os pequenos produtores do Estado. "Falta uma política bem definida. O governo apenas sinaliza a falta de recursos para o setor, mas não apresenta propostas". Entre as demandas estão pendências relativas à reforma agrária e à liberação de recursos para fruticultura para a Metade Sul. "São R$ 2 milhões que estão nas mãos do governo e que não são liberados por questões operacionais".
Entre os pleitos dos pequenos produtores estão ainda o fortalecimento da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa), com a realização de convênio de armazenagem com entidades dos pequenos agricultores, proibição de compra de terras por grandes empresas de celulose e fim dos megaprojetos de deserto verde no Estado.
(Jornal do Comércio, 18/05/2007)