Tony Blair acredita que está perto de persuadir George Bush a aceitar um ambicioso plano que juntaria pela primeira vez em uma parceria os maiores poluidores do mundo para lutar contra as mudanças climáticas. O plano envolve o estabelecimento de uma rede de esquemas de mercado de carbono, sendo esta uma das cinco propostas elaboradas por alemães e britânicos para o encontro do G8 no mês que vem.
O conceito de um acordo internacional envolvendo as nações industrializadas do G8, e alguns dos países mais pobres, e também mais poluidores, como China e Índia, foi iniciado por Blair durante do encontro do G8 de Gleneagles em 2005. Oficiais britânicos acreditam que estão perto de obter as linhas gerais do acordo a tempo para o encontro de junho, que acontecerá na Alemanha, em Heiligendamm. Blair quer fechar um acordo antes que Bush deixe a Casa Branca, eles devem se encontrar amanhã durante a última visita oficial do primeiro-ministro a Washington.
Apesar de alguns grupos ambientalistas alegarem que Blair está desperdiçando seu tempo ao tentar persuadir Bush, o presidente está mudando sua maneira de pensar sobre o assunto, afirma o enviado especial do primeiro-ministro, Elliot Morley. Além dos esquemas de mercado, outros elementos ressaltados pelos britânicos na declaração do G8 são:
- Um acordo para estabilizar o aumento da temperatura mundial acima do nível do pré-industrial de no máximo 2oC, o que significa reduzir as emissões de gases do efeito estufa 50% abaixo do nível de 1990 até 2050;
- Um acordo para fornecer às companhias e aos países “recompensas” em novas tecnologias, se o desmatamento for freado;
- Um novo programa de eficiência energética, baseado no esquema da União Européia para reduzir as emissões de CO2 em 20% até 2020 utilizando técnicas simples, como lâmpadas eficientes e cidades verdes;
- Um novo comprometimento para ajudar países pobres da África a se adaptar às mudanças.
Sob os novos planos de mercado, China e Índia não teriam metas obrigatórias; ao invés disso, poderiam continuar seu crescimento extraordinário em troca de um comprometimento para estabelecer metas nacionais e esquemas de mercado para abranger alguns dos setores industriais mais poluentes, como o processamento de metais e manufatura de cimento.
As companhias destes setores receberiam permissões para emitir dióxido de carbono e outros gases, na esperança de que eles iriam preferir reduzir suas emissões ao invés de pagar pelas permissões. A idéia é baseada no esquema que cobre usinas de energia e indústrias pesadas na Europa sob o Protocolo de Kyoto.
Outros esquemas do tipo ‘cap and trade’ (estes com metas obrigatórias e penalidades por não cumprimento) seriam estabelecidos para abranger a poluição de carbono em países desenvolvidos, incluindo Estados Unidos e Austrália, que se recusaram a assinar Kyoto. O plano poderia seguir linhas nacionais, estaduais ou setoriais, dizem os oficiais, sendo que os créditos de carbono eventualmente poderiam ser negociados entre esquemas diferentes, utilizando bolsas com o objetivo de estabelecer um preço global sobre a poluição.
Os Estados Unidos já estão experimentando esquemas do tipo ‘cap and trade’ em nível regional, mas a Casa Branca e o Congresso têm se oposto a um esquema federal. Ao estabelecer um preço sobre o carbono, acreditam os oficiais, as empresas poderão ter mais iniciativa no investimento em energias livre em carbono.
Representantes do governo britânico apresentaram a idéia durante um encontro entre países do G8 mais China, Índia, África do Sul, Brasil e Méxido, que aconteceu durante o final de semana em Berlin. A esperança mais realista para Heiligendamm é um acordo sobre os cinco princípios, sendo que os detalhes específicos para o tratado que sucederá Kyoto deverão ser discutidos durante as negociações da ONU em Bali em dezembro.
(Traduzido por Fernanda Muller, CarbonoBrasil, do The Guardian, 16/05/2007)