A escuridão das profundezas do oceano Antártico Sul esconde um surpreendente e diversificado tesouro oculto da vida marinha, que inclusive conta com mais de 700 espécies desconhecidas até agora, segundo estudo divulgado na edição desta quarta-feira (16/05) da revista científica britânica Nature.
Uma série de expedições com duração de mais de três anos coletou amostras da fauna que vive a seis quilômetros da superfície terrestre no mar de Weddel, uma região pouco conhecida que fornece grande parte das águas profundas em circulação nos oceanos do mundo. Angelika Brandt, bióloga marinha do Museu Zoológico de Hamburgo e uma das autoras responsáveis pelo estudo, disse que o consórcio internacional de pesquisadores, que fez a descoberta, ficou muito surpreso com o que encontrou.
"Ficamos espantados com o número de novas espécies, esperávamos encontrar o mesmo padrão" de baixa biodiversidade detectado nos oceanos em torno do Pólo Norte, disse ela em entrevista à AFP. A maior parte das novas formas de vida encontradas é composta por isópodes, uma vasta ordem de crustáceos, com tamanho que varia do microscópico a até 30 centímetros de comprimento.
Das 674 espécies catalogadas, mais de 80% nunca tinham sido identificadas antes. As expedições também encontraram 160 espécies de gastrópodes e bivalves, além de 76 tipos de esponjas, 17 delas completamente novas para a ciência. "O que já foi tido como um inóspito abismo é, na verdade, um ambiente dinâmico, variado e biologicamente rico", disse Katrin Linse, uma das 21 co-autoras do estudo. "Encontrar esse extraordinário tesouro oculto da vida marinha é o nosso primeiro passo para entender o complexo relacionamento entre o oceano profundo" e a distribuição da fauna, acrescentou.
Brandt ficou especialmente surpresa com uma pequena amebóide, a Epistominella exigua, que parece se desenvolver em ambientes abaixo dos 6.000 metros tão bem como se estivesse em águas rasas, mostrando "uma impensada capacidade de se adaptar bem a um ambiente de alta pressão".
Estudos anteriores estimavam que as profundezas do Antártico poderiam ser tão precárias em vida marinha quanto o Ártico. Existem duas possíveis explicações para a drástica diferença entre os dois ecossistemas polares, explicou Brandt. A primeira é que o Ártico é muito novo. "No Antártico, a vida marinha está sendo submetida à evolução a pelo menos 20 milhões de anos, enquanto que para o Ártico, o tempo foi muito menor", disse ela.
A segunda, que não exclui a primeira, se relaciona com o papel crítico do Mar do Sul na circulação de águas profundas pelos oceanos do mundo. O movimento de maciças quantidades de água pelas áreas pesquisadas "pode alimentar melhor os animais do que em qualquer outro oceano profundo", completou a pesquisadora.
(Por Marlowe Hood, AFP, 16/05/2007)