Teve início na manhã de segunda-feira (14/05) em Belém (PA), o julgamento de Vitalmiro Bastos de Moura, o "Bida", um dos acusados de ser o mandante do assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, em fevereiro de 2005. Inúmeras manifestações acompanharam a abertura do fórum, com a participação de representantes de diversos movimentos sociais, além das famílias de agricultores da região de Anapu (PA), onde ocorreu o crime, e que continuam vivendo sob ameaça.
Durante as primeiras horas do julgamento, os protestos na capital paraense aconteceram pacificamente. Cartazes, faixas e cruzes por todos os lados pediam a condenação de "Bida" e o fim da impunidade nos conflitos de terra da região. Cerca de 800 pessoas eram esperadas para os protestos, muitas delas da região de Anapu, onde a missionária foi morta por denunciar grilagem e uso indevido de terras por fazendeiros como "Bida".
Os manifestantes presentes ao fórum onde o caso é julgado dão a condenação de "Bida" como certa e continuam denunciando a violência na região. Segundo nosso colaborador local, todos esperam que 'Bida' seja condenado para provar aos poderosos que no Pará tem lei e que eles podem ir para a cadeia.
Trabalho de Dorothy
Dorothy Stang trabalhava na região desde 1998, trabalhando com educação ambiental e desenvolvimento sustentável junto a agricultores e suas famílias. Na região de Anapu, dominada por conflitos, a missionária denunciou a grilagem e o desmatamento nas fazendas no sudeste do Estado.
Em cartas às autoridades paraenses, a missionária relatou a maneira como as terras ocupadas com base nos antigos Catps (Contratos de Alienação de Terras Públicas) eram indevidamente desmatadas e exploradas pelos fazendeiros, além de revelar abusos constantes por parte dos supostos "donos" das áreas, como a queimada de cultivos de pequenos agricultores. A missionária foi assassinada na manhã de 12 de fevereiro de 2005, com seis tiros.
Julgados e condenados
Até o momento, cinco pessoas foram indiciadas por participação no crime, sendo que quatro delas já foram julgadas e condenadas. O pistoleiro responsável pelo assassinato, Rayfran das Neves Sales, o "Fogoió", foi condenado a 27 anos de prisão. Seu comparsa, Clodoaldo Carlos Batista, o "Eduardo", foi condenado a 17 anos. Amair Feijoli da Cunha, o "Tato", cumprirá 27 anos de prisão por ter intermediado as negociações que levaram à morte da missionária.
Regivaldo Galvão e "Bida" foram acusados como mandantes do crime. Regivaldo foi julgado e condenado em 2006, mas obteve um hábeas corpus do Supremo Tribunal de Justiça, e aguarda uma decisão sobre seu pedido para suspender o julgamento. "Bida" é o último dos acusados pelo assassinato de Dorothy Stang a ser julgado.
Defesa e acusação
Segundo agências de notícias que acompanham o julgamento, a defesa de "Bida" deve argumentar que o fazendeiro não teria qualquer motivo para "encomendar" a morte da missionária. Já o Ministério Público, defenderá que as denúncias de Dorothy Stang estariam gerando multas ao fazendeiro junto ao Ibama e Incra, o que teria motivado o chamado "consórcio" com Regivaldo Galvão, para assassinar a missionária.
Saiba mais a respeito do caso:
Incra retoma lote onde foi assassinada Dorothy Stang - 20/04/2007
(Por Mariane Gusan e Bruno Ribeiro, Amazonia.org.br, 14/05/2007)