O hidrólogo boliviano Jorge Molina, especialista em Rio Madeira, aponta graves inconsistências na análise de Sultan Alam, consultor responsável pelo estudo de viabilidade encomendado pelo Ministério de Minas e Energia sobre a usina de Santo Antônio. Em comentários feitos por Molina ao Amazônia, ele afirma que o teor da análise de Alam estava restrito aos problemas técnicos de sedimentação e que Alam comete erros graves de análise dos períodos de cheias do rio, além de desconsiderar a usina de Jirau em todas as suas conclusões.
"Alam não foi contratado para analisar impactos ambientais causados pelos sedimentos, nem os níveis de água ou inundações que podem decorrer do projeto. Ele foi contratado para propor soluções a problemas técnicos identificados pelo Ministério de Minas e Energia. Por isso, não faz uma análise integral do problema e nem opina sobre a viabilidade ambiental do projeto" argumenta Molina sobre o teor dos estudos Sultan Alam.
O hidrólogo aponta como um dos problemas do estudo a análise simplificada do acúmulo de sedimentos ao longo do rio caso a usina de Santo Antônio seja construída. "Os métodos utilizados na avaliação da capacidade de transporte de sedimentos simplificam o processo porque consideram um só tamanho de sedimentos por vez. Não levam em consideração os efeitos que se produzem na interação entre partículas de diferentes tamanhos, por exemplo." Explica Molina.
Outra questão levantada por Molina se refere ao uso de dados indiretos, que o próprio Alam reconhece como aproximados por não incluirem informações topográficas do leito do rio em sua análise.
Molina aponta uma das conclusões do estudo encomendado pelo Ministério de Minas e Energia como completamente equivocada no que se refere aos períodos de cheia do Rio Madeira com corrente de mais de 40 mil m³/s. Segundo o relatório de Alam, as cheias com essas características ocorreriam durante cerca de um mês e meio por ano na região onde se projeta a usina de Santo Antônio. Molina explica que esse tipo de cheia ocorre por cerca de uma semana e meia por ano. Como a cheia aumenta a velocida da correnteza, um período menor implica em um maior depósito de sedimentos no leito do rio. Isso contradiria uma das principais conclusões de viabilidade do estudo de Alam.
Desde que foi tornado público, o estudo causou polêmica por analisar somente as condições de sedimentação referentes à usina de Santo Antônio, ignorando completamente a usina de Jirau, também proposta para o empreendimento. Segundo Molina, nenhuma das conclusões de Alam é aplicável a Jirau. "O funcionamento hidráulico da barragem de Jirau é completamente diferente" , diz Molina. Outra questão não analisada por Alam, uma vez que se ignora a existência da usina de Jirau, é a interação entre as duas barragens - que também tem reflexos na sedimentação.
(Por Mariane Gusan,
Amazônia.org, 15/05/2007)