Quinze integrantes de uma quadrilha envolvida com contrabando e falsificação de produtos agrotóxicos foram presos ontem (15/5) nos três Estados do Sul do País durante a Operação Pó da China, deflagrada pela Polícia Federal (PF). Mais de 4,5 toneladas de produtos químicos ilegais foram apreendidas.
A maior apreensão ocorreu em Santa Catarina, onde, somente em uma empresa de Massaranduba, foram apreendidas cerca de três toneladas. A operação envolveu 170 policiais. Oito pessoas foram presas em SC, seis no Rio Grande do Sul e uma no Paraná.
Cinco das prisões foram em flagrante – três em Santa Catarina e uma no Rio Grande do Sul. A Justiça Federal de Rio do Sul expediu dez mandados de prisão nos três Estados e 26 mandados de busca e apreensão, 16 deles em Santa Catarina. O setor de análise e investigação da PF começou a investigação em setembro do ano passado, após denúncia de comércio irregular de agrotóxicos no interior do Estado, principalmente em Ituporanga.
Durante a apuração, a polícia identificou que a maioria dos agrotóxicos contrabandeados tem origem chinesa e entrava no Brasil pelo Uruguai. O material chegava ao País pelos municípios gaúchos de Bagé (RS) e Pelotas (RS), que funcionavam como centros de distribuição para os outros Estados.
De acordo com as investigações, o esquema era comandado por um uruguaio radicado em Pelotas. Até ser preso, ele contava com a ajuda de um agropecuarista de Bagé, que providenciava as notas frias para acobertar o transporte ilegal. Também foi descoberto o envolvimento de alguns integrantes da quadrilha com os sócios de uma indústria química de Massaranduba. A empresa adquiria a matéria-prima ilegal para a produção de agrotóxicos com formulação adulterada.
Todo o material apreendido foi encaminhado para a Polícia Federal de Itajaí. Por serem tóxicos, os produtos estão em um depósito onde serão analisados por peritos para comprovar a composição química.
Indústria de Massaranduba na miraEm Massaranduba, no Vale do Itapocu, a Operação Pó da China resultou na apreensão de três toneladas de produtos utilizados na produção de agrotóxicos proibidos pela Anvisa e que eram vendidos para agricultores da região Sul. Mais de 20 policiais federais cercaram, na manhã de ontem, uma indústria química.
Depois de mais de quatro horas de averiguação na empresa, a PF apreendeu, entre outros produtos, 49 caixas com 250 gramas de madalesma (para matar lesma) e 34 barricas de 20 quilos do mesmo produto; 74 sacos de 200 gramas cada de hipromil e oito barricas de 28 quilos de metal deyde (produtos para combater pragas e insetos). A madalesma contém substância proibida para fins de agrotóxico, limpeza e higienização.
Segundo o agente federal Alessandre Reis, o proprietário da indústria adquiria produtos proibidos que eram adicionados na formulação de outros produtos utilizados para o combate de pragas e insetos. Ele foi preso em flagrante acusado de comercializar ilegalmente agrotóxicos e aguarda decisão junto com os outros sete detidos na PF de Itajaí. A empresa segue funcionando.
Parte do material apreendido em Massaranduba foi encaminhada para a PF de Itajaí. Em razão da grande quantidade de produtos, a polícia lacrou dentro da empresa várias embalagens do formicida grão verde (usado no controle de formigas). O produto levava uma quantidade diferenciada de princípio ativo registrado na embalagem. O material ficará na empresa até a perícia.
Produtos ofereciam risco à saúdeA maioria dos produtos agrotóxicos comercializados pela quadrilha tem venda proibida no Brasil por oferecer riscos à saúde e ao meio ambiente. Os produtos eram utilizados na lavoura e na pecuária como pesticidas ou praguicidas que combatem insetos em geral), fungicidas (que atingem os fungos) e herbicidas (que matam as plantas daninhas).
O engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador da Epagri José Alberto Noldin explicou que qualquer agrotóxico, quando manuseado de maneira errada, pode ser prejudicial, tanto para a saúde dos agricultores e consumidores, que podem ser intoxicados, quanto para o solo e rios, por causa da contaminação. O produto falsificado oferece risco maior ainda pelo fato de não ter sido pesquisado nem testado.
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A Notícia, 16/05/2007)