(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
ipcc
2007-05-15

É a primeira vez que a difusão do IPCC chega a todos. E isso só aconteceu porque as mudanças climáticas se tornaram evidentes”, afirma Graciela Magrin, coordenadora do capítulo sobre a América Latina do 2º relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). “Agora devemos nos preocupar em nos adaptar a elas”, disse na última quinta-feira (10/5), durante palestra no Centro Cultural CPFL, em Campinas (SP), dentro de um ciclo sobre aquecimento global,organizado pelo climatologista do INPE Carlos Nobre. A pesquisadora do Instituto Argentino de Tecnologia da Agricultura (INTA) apresentou dados que ilustram impactos sofridos na agricultura, previsões e apontou medidas de adaptação colocadas em prática. Dentre os cultivos, a monocultura da soja é aquela que mais se beneficia com a instabilidade do clima, enquanto perdas significativas estão previstas nos cultivos de arroz e café.

Impactos
A variabilidade é o que mais influencia o crescimento ou não dos plantios. Eventos extremos, como períodos de inundações intercalados com secas, e o aumento da temperatura, afetam diretamente o rendimento das plantas. A quantidade de água é fundamental para o crescimento delas, mas em excesso não permite, por exemplo, a respiração das raízes. Já a falta de água por 20 dias pode reduzir o crescimento em 50%, 60% ou em até 70%, dependendo do cultivo. A temperatura, por ser responsável pela aceleração do desenvolvimento da planta, deve respeitar seu gradual processo de amadurecimento para que dê tempo de acumular matéria seca e garantir seu rendimento. Quando as temperaturas são muito altas, o ciclo de crescimento é cortado e a planta não produz. Se além de quente o ambiente for úmido, o resultado é a proliferação de fungos e bactérias, que já ocorre em escala preocupante.

O El Niño, velho conhecido da população latino-americana, vem provocando períodos de mais e menos chuvas em determinadas regiões. Venezuela e Argentina passaram por grandes inundações em 2004 e 2005 – ano em que a Amazônia atravessou um período de seca fora do comum. Na mesma época, a América Central registrava recordes de furacões e Buenos Aires (Argentina) e La Paz (Bolívia) recebiam granizo. Outro fato “excepcional” foi o furacão Catarina, no Atlântico sul do Brasil, que teve como conseqüência perdas significativas de produção de banana e arroz, de 35% a 40%. Em 2004, Equador e Guatemala tiveram perdas de quase 80% em plantios por causa da seca e, em 2006, inundações provocaram perdas de 70% a 80% em cultivos comerciais na Guiana.

Cultivos
Outro fator levantado por Graciela foi a questão do CO2 que, em alta concentração na atmosfera, favorece a planta ao beneficiá-la no processo de fotossíntese e permitir o maior acúmulo de matéria. No entanto, é importante observar que alguns cultivos se beneficiam mais, como é o caso da soja, e outros menos, como o milho. Ainda assim, dados mostram que o cultivo do milho, quando avaliado de 1930 a 1960 e 1970 e 2000, subiu 12% em Passo Fundo (RS), 34% na Argentina e 25% no Uruguai, devido ao aumento pluvial principalmente nas duas últimas regiões. Ao mesmo tempo, verifica-se que devido ao aumento da temperatura, o rendimento do trigo caiu nas zonas mais quentes, chegando à redução de 6% em Passo Fundo.

Soja
“Além do clima existem outros fatores, todas essas otras cositas más que nós, humanos, estamos fazendo”, diz a pesquisadora. Com o boom da soja na América do Sul nos últimos anos, especialmente no Sudeste, os desmatamentos aumentaram e a expansão dos campos está afetando a sustentabilidade dos ecossistemas. Em 2003 calculava-se 38 milhões de hectares (Mha) usados para o monocultivo da soja. As previsões para 2020 são assustadoras: haverá um aumento de 55% na área usada para o plantio, que equivale à quantia de 59 Mha. “Isso sem falar nas zonas onde o estado é crítico”, alerta Graciela, referindo-se ao Cerrado, ao Grande Chaco, à Amazônia e à Mata Atlântica. Segundo ela, estão sendo destruídas zonas de alta fragilidade que não suportam tentativas de manejo. Uma das conseqüências da soja é o enfraquecimento do solo. Estima-se que repor os nutrientes perdidos em 1 hectare de soja por ano custaria aproximadamente 400 quilos de soja por hectare. Além disso, o que não pode ficar de fora são as emissões de óxido de nitrogênio por uso do solo – um dos gases responsáveis pelo efeito estufa –, das quais 50% vêm do cultivo da soja.

Previsões
De acordo com estudos analisados pelo grupo de trabalho II do IPCC, para 2020 espera-se o aumento de 0,5ºC a 2ºC na temperatura da América Latina, calculando-se de 1 ºC a 4 ºC em 2050 e 1 ºC a 7,5 ºC em 2080. Com relação aos cultivos, a redução será de 4% a 5% do rendimento do milho por cada grau a mais e a produção do trigo cairá de 7% a 9%. A soja, que se inclui perfeitamente no ditado vaso ruim não quebra, suporta até 3ºC a mais sem sofrer alterações. Em análises gerais, os impactos das mudanças climáticas agirão de formas diferentes sobre cada cultivo, mas pode-se afirmar que haverá redução na produção de arroz em todos os países e também do café, principalmente no México. No Brasil, será menor o número de áreas aptas para seu plantio. A savanização e desertificação previstas no Chile, Peru e Brasil também vão produzir perdas importantes na produtividade dos solos.

Adaptação
O setor agrícola, de acordo com Graciela, é aquele com mais capacidade de se adaptar às mudanças climáticas por poder criar estratégias de manejo e evitar perdas. A avaliação de prognósticos – as previsões climáticas – é uma importante medida de adaptação usada na Nicarágua e no México, mas que precisa ser difundida nos outros países. Seguros agrícolas, que permitem ao produtor proteger-se contra perdas provocadas por fenômenos naturais, e o desenvolvimento de novas atividades são duas outras medidas a serem levadas em consideração. O que falta, segundo a especialista, é um planejamento adequado à realidade regional de cada país, uma vez que a falta de programas de adaptação é um dos principais fatores das perdas neste setor. “Aqui (América Latina) impera o princípio da ação e reação. Enquanto nada acontece, nada fazemos”. A ação, pensada a curto e a longo prazo, deve ser instantânea.
(Por Carla di Cologna, O Eco, 14/05/2007)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -