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desertificação erosão
2007-05-15

A natureza é esquiva no litoral sul de Guantânamo. Seus solos salinos e afetados pela erosão e por freqüentes chuvas marcam um contraste evidente com a verde exuberância do lado norte desta província do extremo leste de Cuba. “O melhor coube a Baracoa, os turistas ficam lá”, queixa-se um homem de aparentemente 25 anos, que vende calçados feitos à mão em uma avenida de Guantânamo, capital da província de mesmo nome, a 929 quilômetros da capital.

 

A cidade à qual se refere, no noroeste deste território e fundada em 1511 por Diego Velásquez, se destaca por suas florestas virgens, exuberantes flora e fauna endêmicas, rios cristalinos e belas praias. O maciço montanhoso Sagua-Nipe-Baracoa marca a diferença climática de um e outro lado. Enquanto a região norte é a mais úmida do país, com chuvas de mais de três mil milímetros como média anual, a que fica ao sul é a mais seca, com menos de 500 milímetros. Segundo especialistas, as poucas chuvas agravaram a erosão e a desertificação dos solos nesta região semi-árida, de 1.752 quilômetros quadrados, incluindo a faixa costeira sul da província, de aproximadamente 600 quilômetros quadrados.

 

A desertificação é um processo gradual de perda de produtividade do solo e de redução da cobertura vegetal pelo efeito da ação humana e das variações climáticas. O fenômeno afeta 14% da área agrícola de Cuba, o que representa mais de um milhão e meio de hectares. Apesar destas inclemências, o jovem vendedor, loquaz, mas reticente em dar seu nome, acredita que as pessoas estão melhores no campo do que na cidade. “Os camponeses ganham mais e comem bem”, mas nem por isso se imagina trabalhando a terra, confessa.

 

Na periferia da cidade, em um lugar chamado Los Coquitos de Jaibo, mais de uma centena de homens e mulheres optaram pela lavoura e duplicaram a produção de alimentos após aprenderem técnicas para melhorar os solos e o rendimento dos cultivos. A área que trabalham fica no limite superior da zona semi-árida. Embora seus solos sejam “aceitáveis”, é preciso aplicar abundante matéria orgânica para obter bons resultados, explica ao Terramérica Oscar Borges, especialista em Manejo Ecológico de Terras.

 

A horta fornece alimentos para cerca de 50 mil moradores dos arredores, além de um abrigo para idosos, três ou quatro jardins da infância e o hospital psiquiátrico da província, entre outras instituições. Até meados da década de 90, foi um terreno baldio e improdutivo. “A horta criou novos empregos, inclusive para as mulheres, e produziu alimentos que antes não tínhamos”, conta Yamilé Romero, professora primária e moradora na área. A alguns quilômetros dali, em plena região semi-árida, um campo de aproximadamente dois hectares antes coberta de marabu, planta espinhosa que invade terras abandonadas, hoje é um campo de arroz.

 

“Aplicamos técnicas agroecológicas e de manejo de solos salinos, e agora colhemos cerca de 60 quintais (2.760 quilos) de arroz adequado para o consumo. Guardo cerca de dez quintais (460 quilos) para minha família e o restante vendo para a Cooperativa de Crédito e Serviços Enrique Campos”, diz Humberto Aguilar. Há quatro anos ele não compra a cota deste alimento que não pode faltar nos lares cubanos, incluído na cartilha de abastecimento racionado a preço subsidiado, disponível para toda a população de 11,2 milhões de pessoas.

 

A Cooperativa, que reúne 56 pequenas propriedades privadas, também duplicou sua produção de hortaliças, grãos e tubérculos graças ao uso de tecnologias apropriadas para seus solos, afetados pela salinidade, erosão e má drenagem. Entre os municípios mais prejudicados por essas escassas precipitações está San Antonio del Sul, com mais de 26 mil habitantes. “Por aqui chove muito pouco, e tenho que irrigar com água que chega de uma comunidade vizinha pela ação da gravidade”, contou Roberto Hinojosa, encarregado de uma propriedade estatal de reflorestamento a região.

 

Ele tem sob seus cuidados quase 30 hectares, dos quais aproximadamente 11 já estão cobertos com espécies que fornecem madeira e frutas resistentes às condições do local, chamado Bate Bate, por causa do bater das ondas do mar que se vê do outro lado da estrada. Entre essas espécies estão a árvore nim (Azadirachta indica A. Juss), o pinhão manso (Jatropha curcas), o pau-santo (Guaiacum officinale) e a goiabeira (Psidium guajava L.).

 

“Esta área é integral porque também inclui o cuidado de um pequeno rebanho de ovinos”, explica Hinojosa. Há cinco ou seis anos, este setor estava coberto por uma pastagem amarelada e ressecada. Hoje, o verde das jovens árvores começa a mudar a agreste paisagem. “Se trabalha muito, mas vale a pena”, afirma este ex-empregado de um engenho de açúcar. Sua casa é iluminada com energia fotovoltaica, que beneficia cerca de 28 mil moradores de Guantânamo.

 

Também em San Antonio, na comunidade de Baitiquirí, a plantação de árvores nim agora tem três anos e é regada a cada dois ou três meses. Esta espécie, que fornece madeira, tem folhas e sementes com propriedades repelentes. “Até as crianças nos ajudam”, afirma Teodosio Hernández, técnico que dirige este projeto de reflorestamento que prevê a produção futura de um bioinseticida, com financiamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e do Fundo para o Meio Ambiente Mundial. Salvo em algumas áreas férteis como oásis em um deserto, obter fruto desta terra requer um paciente trabalho em que cientistas e camponeses atuam em conjunto, em um programa de luta contra a desertificação e a seca.

 

Os métodos incluem plantio de espécies florestais resistentes à falta de água e que contribuam com sua folhagem para a reabilitação e conservação dos solos, rotação de cultivos, aplicação de fertilizantes orgânicos e de bioestimuladores como a fitomassa, elaborada a partir da cana-de-açúcar para aumentar o rendimento e a qualidade dos cultivos. A desertificação foi controlada em cerca de 67.990 hectares, garantiu ao Terramérica Nicomedes Cobas, responsável em Baitiquirí pelo governamental Centro de Aplicações Tecnológicas para o Desenvolvimento Sustentável. Isto equivale e 39% da região semi-árida.

(Por Patricia Grogg, Terramérica, 14/05/2007)

 


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