Vereador pelo quinto mandato consecutivo e apontado pela Polícia Federal (PF) como líder de um suposto esquema de venda de licenças ambientais para grandes empreendimentos em Florianópolis, Juarez Silveira é filho de uma família humilde que, durante décadas, morou no Morro do Geraldo, comunidade localizada na periferia da região continental da Capital.
Ali, entre partidas de futebol no campinho próximo ao Exército e festas no Clube Cinco de Novembro, Juarez começou a formar, graças a sua personalidade expansiva, um círculo de amizades que incluía pobres e ricos, sem distinção.
Único homem entre quatro irmãos, Juarez trabalhou como lavador de carros e vendedor. Mas não demorou para conseguir um emprego melhor, graças à influência do pai, falecido há dois anos, que era motorista da Assembléia Legislativa e muito bem relacionado na cidade.
Juarez teve seu primeiro emprego de carteira assinada no Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), para onde foi levado pelo pai do amigo e colega de Câmara Guilherme da Silva Grillo (PP). Há dois anos, entrou no Plano de Demissão Incentivada (PDI), depois de quase 30 anos de serviço público.
- O Juarez tem um coração maravilhoso. É uma pessoa muito ligada à família, que faz tudo pelos sobrinhos e sempre muito leal aos amigos - define Grillo, que, em 2004, foi detido depois de ser acusado de ter instalado um "grampo" no apartamento de Juarez - o episódio, diz Grillo, está "superado", tanto no "campo pessoal quanto jurídico".
Outra característica, apontada por quase todas as pessoas que convivem com Juarez, é a incontrolável incontinência verbal. O advogado Antônio Chraim, procurador da Câmara da Capital e um dos garotos que jogavam futebol nas várzeas do Estreito com Juarez, conta, em tom de brincadeira, que "naquele tempo, ele já era uma gralha".
E foi o hábito de falar demais que o levou a ser detido pela primeira vez. O fato aconteceu em novembro passado, quando, sem saber que já era monitorado pela PF no âmbito da Operação Moeda Verde, foi ao Uruguai comprar roupas e bebidas acima da cota (leia a transcrição).
Tática da internação, desta vez, não colou
Da central de escutas da PF, os agentes ficaram sabendo pelo próprio Juarez seu itinerário - inclusive com hora. Aí foi só avisar os colegas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que realizaram a prisão no posto de fiscalização de Palhoça.
Simulando um mal-estar, Juarez foi levado para uma clínica na Avenida Trompowsky, um dos endereços mais caros de Florianópolis, próximo à Beira-Mar Norte, onde o ex-menino pobre do Estreito possui um apartamento.
Internado, novamente foi traído pela língua. Em conversas monitoradas, se gabava da "tática" que o livrou da carceragem. Resultado: quando decretou a prisão dos 22 suspeitos de negociar licenças ambientais, o juiz Zenildo Bodnar deixou expresso no despacho que, caso Juarez passasse mal, deveria ser atendido apenas por um médico da PF.
Não deu outra. Preso em casa na manhã do dia 3, passou mal e tentou voltar para a mesma clínica (cujo dono também foi detido), mas foi proibido. A Justiça ofereceu dois hospitais públicos para a internação, mas Juju, como é conhecido pelos mais íntimos, preferiu a carceragem da PF, onde permanecia até a noite de sexta-feira em uma cela.
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