O Rio Preto é contribuinte da margem esquerda do rio Juruena (MT). Sua bacia, que se estende por 161 mil hectares, é cenário de mitos de origem do povo Enawene Nawe, além de abrigar uma modalidade de pesca coletiva feita por meio de barragens.
Esta prática tradicional, que pode durar até dois meses, precede Yãkwa, o mais longo e importante ritual da etnia. “Antigamente, não existia isso de fazendeiro, garimpeiro e madeireiro no rio Preto. Aquilo ali era só aldeia”, apontou ao Diário o líder Kawalitiwalo Ene, na ocasião em que foi feita a denúncia ao MPF.
Em 2004, a Funai iniciou a formação de um grupo técnico para estudar a situação da bacia do rio Preto. Um edital chegou a ser publicado, anunciando a contratação de técnicos para o trabalho – que, conforme a promessa oficial, seria iniciado ainda em 2005. Tudo em vão.
“O processo foi suspenso pela Funai e até hoje não conseguimos entender o que aconteceu”, lamenta o índio, que diz temer as conseqüências dessa decisão para o futuro da etnia.
Para o antropólogo Gilton Mendes Santos, a não-inclusão do rio Preto nas áreas demarcadas para a etnia é um equívoco a ser corrigo. “Ali está a origem dos clãs e grupos enawenê. É como se fosse Israel para os judeus”. (RV)
(Por Rodrigo Vargas, Diário de Cuiabá, 13/05/2007)