A fiscalização do Ibama suspeita que fazendeiros tenham utilizado desfolhantes químicos de uso restrito para devastar uma área de floresta nativa equivalente a 5 mil campos de futebol na região da sub-bacia do rio Preto, no município de Juína (730 quilômetros ao norte de Cuiabá).
A região abriga as terras tradicionais reivindicadas pela etnia Enawene Nawe. Em denúncia encaminhada em 2006 ao procurador da República Mário Lúcio Avelar, os índios denunciaram a existência de um movimento ordenado para abrir grandes extensões da área pretendida, na tentativa de impedir a demarcação.
Em operação realizada a pedido do Ministério Público Federal, o Ibama comprovou os relatos. Foram embargados mais de 20 mil hectares de áreas desmatadas ou exploradas sem autorização em dezenas de propriedades. O total de multas aplicadas chegou a aproximadamente R$ 26 milhões.
“A parte que os índios reivindicam, em especial, está muito alterada”, relata o analista ambiental Eduardo Engelmann, que coordenou a operação em campo. “Identificamos desmatamentos de grande extensão por toda a região”.
O que mais chamou a atenção dos fiscais, no entanto, foi a descoberta de uma área de 5 mil hectares integralmente coberta por árvores mortas. “A floresta estava lá, em pé, mas totalmente seca. As árvores todas sem folhas, o tronco sem cascas. Nunca vi algo dessa magnitude”, comenta.
A devastação já havia aparecido em imagens de satélite obtidas entre 2005 e 2006. Em campo, porém, ficou comprovado que se tratava de uma forma de ação distinta. “Há indícios de que tenham utilizado algum desfolhante químico, despejado por avião. É uma maneira rápida de fazer a conversão para pastagens”.
Os registros de práticas semelhantes apontam para produtos como o Tordon - um derivado do agente laranja, utilizado pelo exército americano na Guerra do Vietnã –, que tem uso controlado no Brasil. O Ibama vai solicitar uma perícia da área em busca de resíduos, mas a chance de sucesso é pequena, admite o analista.
A floresta seca se estende por seis propriedades desmembradas da Fazenda Amália, com cerca de 40 mil hectares. Embora ainda não seja possível determinar o fator que provocou a morte das árvores, o Ibama aplicou R$ 7,5 milhões em multas.
Em defesas prévias encaminhadas ao Ibama, os donos das áreas negam o uso de qualquer agrotóxico – a associação de produtores rurais da região diz nunca ter “ouvido falar” da prática.
As árvores secas seriam, segundo eles, o resultado de um incêndio florestal. Para o analista ambiental, a explicação não convence. “Independentemente da comprovação ou não do uso do desfolhante, o que ficou bastante evidente para nós foi que houve um crime ambiental”.
(Por Rodrigo Vargas, Diário de Cuiabá, 13/05/2007)