Considerado inóspito para humanos, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, a 1.100 quilômetros de Natal (RN), registra 120 espécies. Quatro delas não são encontradas em outros locais do planeta
Um local inóspito para seres humanos, mas rico em biodiversidade. É assim o arquipélago de São Pedro e São Paulo, localizado a 1.100 quilômetros de Natal (RN). Levantamento realizado recentemente pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) mostra que o conjunto de 15 ilhas abriga, só de peixes, 120 espécies, algumas delas ameaçadas de extinção.
Quatro delas são endêmicas dos rochedos, ou seja, não habitam nenhum outro lugar do planeta e uma, além de restrita a São Pedro e São Paulo, está na lista de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Há, ainda, quatro endêmicas do Brasil e duas de ilhas da chamada Cordilheira Mesoatlântica, um afloramento rochoso no meio do Oceano Atlântico, a meio caminho do Brasil da África. A cordilheira, além de São Pedro e São Paulo, inclui Ilhas Ascensão e Ilha Santa Helena.
Os rochedos abrigam, ainda, 14 espécies de elasmobrânquios, grupo que inclui tubarões, raias e quimeras. Segundo um dos cinco autores do estudo, o oceanógrafo Teodoro Vaske Junior, o arquipélago é um importante local de concentração de tubarões-baleia. O animal, o maior peixe do mundo, atinge 18 metros e está na lista da IUCN e também na brasileira. "Foram observados indivíduos com comprimentos entre dois e 14 metros", diz o pesquisador, vinculado à Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
Os dados estão compilados num livro com 191 páginas e intitulado Arquipélago de São Pedro e São Paulo: Histórico e Recursos Naturais. A edição teve apenas 20 exemplares. Outra autora, a professora Rosângela Lessa, do Laboratório de Dinâmica de Populações Marinhas (Dimar), vinculado ao Departamento de Pesca e Aqüicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), está tentando uma reedição.
O arquipélago é composto por 15 pequenas ilhas e rochedos, espalhados por 7.500 metros quadrados. Todas as ilhotas são rochosas, sem praias e com contornos irregulares e íngremes. A maior delas, com 100 por 60 metros, é Belmonte. Trata-se do ponto mais avançado do Brasil no Atlântico Norte, estando a 1.824 quilômetros de Guiné Bissau, na África, e, por isso mesmo, está mais exposto a intempéries. Recentemente, um alojamento mantido pela Marinha e a UFRPE foi destruído por um vendaval.
O nome do arquipélago é uma referência ao naufrágio, no século 16, de uma caravela chamada São Pedro. Um outro navio da frota, o São Paulo, teria resgatado a tripulação do navio. Um dos locais mais inóspitos do Brasil, passou a ser ocupado para garantir a soberania brasileira sobre a Zona Econômica Exclusiva (ZEE), compreendida por 200 milhas náuticas (360 quilômetros) ao largo do território nacional.
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Jornal do Commercio, 11/05/2007)