Anualmente, grandes reservatórios de usinas hidrelétricas são responsáveis pela emissão de 104 milhões de toneladas de metano na atmosfera. Só no Brasil, são emitidos 21,8 milhões de toneladas do gás, principal responsável, depois do gás carbônico, pelo agravamento do efeito estufa. Isso significa que as grandes represas podem ser consideradas como as maiores contribuintes individuais para o aquecimento global. Os números e conclusões fazem parte do estudo desenvolvido pelos pesquisadores Fernando Ramos, Ivan Lima e Luís Bombace, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O documento produzido pelo grupo inova ao considerar, pela primeira vez, o metano produzido pelas turbinas, vertedouros (por onde escoa a água excedente do reservatório) e no rio à jusante da barragem. Os estudos, até então produzidos, consideravam somente a quantidade de gás produzida nos reservatórios, principalmente pela decomposição de material orgânico submerso.
A pesquisa revela que cerca de 31 mil maiores represas do mundo são responsáveis por 4% do impacto no aquecimento global causado por atividades humanas. No Brasil, o metano emitido por esses reservatórios é responsável por 20% da nossa contribuição para o agravamento do efeito estufa. O estudo mostra ainda que a inundação de ecossistemas terrestres pode estar alterando a presença de metano na atmosfera há cerca de 5 mil anos.
A mais recente avaliação feita pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) estima que o metano tem um impacto sobre o aquecimento 72 vezes maior que o CO² em um período de 20 anos. Já no prazo de um século, essa relação cai para 25 vezes. Isso porque o metano possui maior capacidade de reter o calor, mas permanece por menos tempo na atmosfera.
A equipe de pesquisadores afirma que "soluções de engenharia podem ser implementadas para evitar essas emissões, e para recuperar o metano que deixou de ser emitido para a geração de energia". Os benefícios seriam a mitigação dos impactos causados pelo homem, como a construção de novas usinas, a recuperação do metano atualmente emitido e a redução na utilização de combustíveis fósseis e de reservas de gás natural.
Para Ivan Lima, "esse estudo não é a palavra final. Tem que ter mais gente trabalhando para ter uma visão mais real sobre cada usina". Sobre a necessidade de o IPCC abordar de maneira mais contundente a contribuição das represas para o aquecimento global, ele afirma que "o IPCC não pode fazer nada enquanto não tiver dados mais confiantes. Por isso é preciso um maior esforço nas esferas nacional e internacional para se fazer essa medição [das emissões das principais usinas] com uma metodologia consolidada".
(Por Renata Gaspar,
Amazonia.org.br, 10/05/2007)