A maior fabricante nacional de embalagens longa-vida está na mira, desde ontem (08/05), de uma operação do governo estadual que pretende revirar aterros sanitários em várias cidades paranaenses em busca de passivo ambiental. De acordo com o secretário estadual de Meio Ambiente, Lindsley Rasca Rodrigues, a “falta de comprometimento da Tetra Pak com o lixo que produz” pode resultar em uma seqüência enorme de autuações que inviabilizariam o negócio no estado.
“A empresa vai ter que migrar para um outro tipo de embalagem porque não vai suportar a carga de multas”, adverte, referindo-se à fábrica da Tetra Pak em Ponta Grossa, que é uma das cinco maiores geradoras de ICMS no Paraná – por sua vez, a principal fonte de recursos do governo estadual.
Rodrigues informou ontem que o governo estadual está avaliando a possibilidade de proibir a comercialização das embalagens longa-vida dentro do território paranaense. A medida radical se deve à “falta de responsabilidade ambiental da Tetra Pak”, que não teria um sistema adequado para recolher as embalagens que coloca no mercado.
O argumento é de que o material composto por papel, plástico e metal não é facilmente reciclável, gerando resíduos nocivos. “Contém alumínio, que é um metal pesado. As tintas também são poluentes”, reclama o secretário, afirmando que a empresa foi notificada várias vezes e não tomou providências. A Secretaria assegura que tentou diversas vezes convencer a empresa a dar destinação correta ao passivo ambiental. “Precisam recolher. Não podem ficar a mercê do catador”, diz.
De acordo com o governo estadual, 500 milhões de embalagens longa-vida são colocadas no mercado paranaense a cada ano e apenas 160 milhões são recicladas. Os números não são reconhecidos pela fabricante. A empresa confirma a produção anual de 8 bilhões de embalagens no Brasil.
Em nota oficial distribuída por sua assessoria de imprensa, a Tetra Pak informa que não sofre nenhum tipo de restrição nos 165 países onde atua. A empresa se diz “referência global em sustentabilidade, por suas práticas em prol da preservação ambiental, tais como utilização de matéria-prima renovável”, como a compra de papel de madeira certificada.
A fabricante informou ainda que só no ano passado mais de R$ 80 milhões foram gerados com a reciclagem de embalagens longa-vida e mais de 45.700 toneladas do material foram recicladas. Hoje há companhias que fabricam placas, telhas e outros produtos a partir da mistura de plástico e alumínio das embalagens recicladas.
Leite em vidroPara o secretário, o leite – principal produto envasado neste tipo de recipiente – poderia voltar a ser vendido em embalagens de vidro e plástico, que são 100% recicláveis.
Rodrigues lembra outros casos em que o produtor já se comprometeu com o recolhimento do passivo, como no caso dos pneus e das embalagens de agrotóxicos, e destaca que o processo começou com força nas áreas de filtros de postos de combustíveis e óleo de fritura.
A proposta conta com o apoio do coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente do Ministério Público Estadual, Saint-Clair Honorato Santos.
(Por Katia Brembatti,
Gazeta do Povo, 09/05/2007)